Quando a máscara e a educação são imprescindíveis

Na noite de 25 de dezembro de 2023, em um voo de Belo Horizonte a São Paulo, sentado à minha frente um homem tossia com frequência. Não usava máscara. Peguei daí a minha e vim com ela. Exceto meu companheiro, que também a pôs, mais ninguém usava ou usou a máscara durante todo o voo. Ao chegar, dirigi-me ao comissário de bordo, contando o que ocorrera. Respondeu: “antes, nessas ocasiões, oferecíamos uma máscara ao passageiro que tossia, mas agora nem as temos mais”.

Teria sido bom se o povo brasileiro tivesse apreendido com a pandemia a pensar nos outros nessas circunstâncias (não só!) e agisse como os japoneses o faziam já bem antes, usando a máscara toda vez que tinham gripe ou a suspeita de um vírus que pudesse contaminar as pessoas. Na falta desse aprendizado, deveria haver uma campanha educativa movida pelo Ministério da Saúde para que uns começassem a cuidar dos outros, preservando-os por meio da iniciativa espontânea de usar a máscara quando necessário.

Quando não o faz, a pessoa assume vários riscos: além do de contaminar os outros, pode preocupá-los, irritá-los, atrair sua antipatia. Nada de bom se cria na dominância do egoísmo. Cabe ao menos ao governo, por meio dos diferentes meios de comunicação, e também às escolas agirem em campanhas bem feitas de reeducação, de mudança de hábitos. Sabemos que não é fácil mudar costumes arraigados, mas é preciso vontade política.

Ou sobre os contos de fada

Nos atos cotidianos de um povo – parar o carro na faixa para os pedestres passarem, falar baixo e não incomodar os outros com barulho em mil situações da vida, ceder o assento a idosos e pessoas com necessidades especiais, não jogar lixo em áreas públicas; ou então pouco preocupar-se com isso tudo – existe um aspecto civilizacional de fundo. Ele já aparece na maioria dos contos de fada ou histórias tradicionais: é a luta entre o egocentrismo e a abertura ao outro – o cuidado por ele, vendo-o como a si mesmo ou vendo-se como ele –, numa celebração bem mais possante da vida.

É esse mesmo aspecto civilizatório que está em pauta no impasse atual pela sobrevivência de todos nós e de nosso futuro na Terra – agredida e saqueada pelos homens em um grau jamais visto, segundo uma tecnologia altamente desenvolvida e que segue orientada para o lucro, o poder e a apropriação muito desigual das riquezas.

Estamos neste ponto do conto.

Que as forças heroicas continuem a se pôr em movimento, de todos os bons jeitos possíveis.

Rosie Mehoudar, Natal de 2023

  • Foto: YOSHIKAZU TSUNO / AFP