O Brasil ocupa a primeira posição no mundo em consumo de pesticidas. Em 2015, o Ministério da Agricultura divulgou que um bilhão de litros de agrotóxicos são usados por ano no país, o que equivale a cerca de 5 litros de agrotóxicos por ano per capita. O Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão do Ministério da Saúde, eleva esse número para 5,2 litros por habitante e em 6 de abril de 2015 divulgou um documento cujo objetivo é:
“demarcar o posicionamento do INCA contra as atuais práticas de uso de agrotóxicos no Brasil e ressaltar seus riscos à saúde, em especial nas causas do câncer. Dessa forma, espera-se fortalecer iniciativas de regulação e controle destas substâncias, além de incentivar alternativas agroecológicas aqui apontadas como solução ao modelo agrícola dominante. (…) Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos de agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações, neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e câncer. Os últimos resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA) da Anvisa revelaram amostras com resíduos de agrotóxicos em quantidades acima do limite máximo permitido e com a presença de substâncias químicas não autorizadas para o alimento pesquisado. Além disso, também constataram a existência de agrotóxicos em processo de banimento pela Anvisa ou que nunca tiveram registro no Brasil. Vale ressaltar que a presença de resíduos de agrotóxicos não ocorre apenas em alimentos in natura, mas também em muitos produtos alimentícios processados pela indústria, como biscoitos, salgadinhos, pães, cereais matinais, lasanhas, pizzas e outros que têm como ingredientes o trigo, o milho e a soja, por exemplo. Ainda podem estar presentes nas carnes e leites de animais que se alimentam de ração com traços de agrotóxicos, devido ao processo de bioacumulação. (…) O foco essencial está no combate ao uso dos agrotóxicos, que contamina todas as fontes de recursos vitais, incluindo alimentos, solos, águas, leite materno e ar”. Posicionamento dos Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva acerca dos Agrotóxicos”
Seguindo o exemplo da brutal desmontagem da Environmental Protection Agency (EPA) por Trump, Temer e seu ministro da agricultura, Blairo Maggi, desmontam o já precário funcionamento da Anvisa. Tal como Kátia Abreu, sua antecessora à frente do Ministério da Agricultura, Blairo Maggi é um dos grandes responsáveis pelas políticas de tolerância ilimitada aos pesticidas na agricultura brasileira. Kátia Abreu ficou conhecida por exercer pressões sobre a Anvisa para a liberação de novos compostos: “Quanto mais defensivos melhor, porque a tendência é os preços caírem em função do aumento da oferta” (veja: “Kátia Abreu quer liberação mais rápida de agrotóxicos pela ANVISA”. Viomundo, 19/X/2011). Nos quesitos desmatamento e intoxicação química dos organismos, Blairo Maggi pode ser ainda pior, se possível fosse, que sua antecessora.
Luiz Marques
São Paulo – A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), subordinada ao Ministério da Saúde, não presta mais informações a respeito de agrotóxicos, inclusive sobre aqueles registrados antes de 2016. A informação é da assessoria de imprensa da agência. Indagada na tarde da quarta-feira (1º) sobre as substâncias registradas ano passado – um recorde, segundo nota do Ministério da Agricultura (Mapa) –, limitou-se a informar que os questionamentos devem ser encaminhados diretamente à Agricultura.
No último dia 10, o Mapa divulgou que foram registrados 277 novos agroquímicos, um recorde histórico segundo o próprio ministério. Do total, 161 são produtos técnicos equivalentes (PTEs) – os chamados genéricos –, o que corresponde a alta de 374% em comparação a 2015, quando foram registrados 43 PTEs, além de 139 novos produtos. A média histórica anual é de 140 registros.
No anúncio do recorde, o coordenador geral de agroquímicos e afins do Mapa, Júlio Sergio de Britto, observou “grande evolução na qualidade e no número de produtos ofertados, graças ao esforço dos técnicos dos ministérios da Agricultura, da Saúde (Anvisa) e do Meio Ambiente (Ibama)”