Quando o Verde entrou na Política
Origem na Austrália

A origem do Partido Verde enquanto proposta política, sempre com a principal premissa da defesa do meio ambiente, aconteceu na Tasmânia (Austrália), com ecologistas do United Tasmanian Group reunindo-se em 1972 para impedir o transbordamento do Lake Pedder. Posteriormente o grupo adotou o nome de Green Party e hoje tem atuação significativa na política australiana. Esta iniciativa foi se espalhando pelo mundo e está presente em mais de 120 países, representando a quarta bancada no Parlamento Europeu.

Alemanha

O Partido Verde mais em evidência é o da Alemanha, país cujo pioneirismo é constatado nas mais diversas áreas. O Aliança 90/ Os Verdes, denominado apenas Verdes, foi constituído em 1993 pela fusão do Partido Verde Alemão (formado na Alemanha Ocidental em 1980, tendo sua origem no movimento ecológico pacifista mundial do final dos anos 1970) e do Aliança 90 (grupo de oposição alternativo, fundado por ocasião da Revolução de 1989/90, na Alemanha Oriental, durante a queda do muro de Berlim e a retração soviética).

Diante da catástrofe nuclear de Fukushima, em 2011, a atuação do partido foi fundamental para a decisão de a Alemanha fechar suas centrais nucleares até 2022. As bases do partido são a sustentabilidade ecológica, uma política socioeconômica (com renda básica de cidadania e integração de imigrantes numa sociedade multicultural) e a expansão da União Europeia. Há duas vertentes no partido: a Fundis – mais radical, anticapitalista, ecossocialista e defensora dos direitos dos animais; e a Reat – ala mais realista (Realpolitik), reformista, pragmática, que apoia a cooperação partidária.  

França

Na França há o partido Europa Ecologia – Os Verdes (Les Verts), de centro-esquerda, fundado em 2008, a partir da aliança de diversos partidos já existentes com movimentos ecologistas e sociais, iniciativa que visava ampliar a atuação do partido Os Verdes, criado em 1984. Há no país um amplo consenso a favor da energia nuclear, o que diverge da posição dos ecologistas. Les Verts são contra a globalização e a favor do federalismo europeu.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o Green Party é considerado de esquerda, foi constituído em 2001 e é o quarto maior partido do país. Defende o ambientalismo, a democracia representativa, o antirracismo, a igualdade de gêneros e os direitos LGBT. O partido se denomina ecossocialista.

União mundial dos Partidos Verdes

Por ocasião da ECO-92 (Rio de Janeiro, 1992) houve o primeiro encontro dos verdes de diversos países, dando origem à formação das quatro Federações dos Partidos Verdes, que visam intercâmbios e a definição de programas. Cada uma das federações representa um continente, com exceção da Ásia.  No Global Greens, importante evento que ocorreu em Camberra (Austrália) em 2001, houve a aprovação da Carta Verde, primeiro documento de unificação de todos os Partidos Verdes mundiais.

Brasil

O Partido Verde brasileiro, simbolizado por um V dentro de um círculo, desenho verde em fundo branco, foi fundado em 1986 no Rio de Janeiro. A partir do pensamento ambientalista europeu, foi aqui articulado por ecologistas, escritores, artistas, jornalistas e ex-exilados políticos, entre eles Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Lucélia Santos, John Neschling, Carlos Minc, Herbert Daniel e Lúcia Veríssimo. As atenções daquele momento estavam concentradas nas usinas nucleares de Angra dos Reis, na poluição em Cubatão, na Amazônia e no Pantanal e também na caça às baleias.  Oficialmente registrado em 1993, é representado pelo número 43 no código eleitoral.  A primeira manifestação usando o nome Partido Verde deu-se em 1982, no Paraná, quando Hamilton Vilela de Magalhães, candidato a deputado federal pelo PTB, fez sua campanha com este nome e usou como símbolo uma baleia.

Dentre as diretrizes do partido estão o desenvolvimento sustentável, redução da desigualdade social, reforma agrária ecológica, reforma política com diminuição do número de ministérios e do número dos parlamentares, votação de leis de iniciativa popular e desmatamento zero na Amazônia e na Mata Atlântica. Estas iniciativas sempre pensadas em consonância com os princípios democráticos, o parlamentarismo e a separação dos poderes públicos.

A primeira disputa eleitoral aconteceu no mesmo ano da fundação do partido, sendo lançado Fernando Gabeira candidato ao governo do Rio de Janeiro. Houve uma campanha entusiática – com o abraço à Lagoa Rodrigo de Freitas reunindo 100 mil pessoas e a passeata “Fala Mulher”, com 80 mil pessoas no centro do Rio –, porém a resistência da mídia conservadora impediu um melhor desempenho, ficando Gabeira em terceiro lugar. O primeiro candidato eleito do PV foi Carlos Minc, como deputado estadual pelo Rio. Houve uma rápida projeção nacional e Chico Mendes, o líder seringueiro da Amazônia, participou de reuniões do partido ao qual pretendia filiar-se para concorrer à vaga de deputado estadual pelo Acre, mas foi assassinado em 1988. 

O Partido Verde lançou as seguintes candidaturas à presidência do Brasil: Fernando Gabeira (1989), Alfredo Sirkis (1998), Marina Silva (2010) e Eduardo Jorge (2014). Foram feitas coligações com os partidos Rede (2018) e PT (1994 e 2022) para algumas eleições; em 2018, Eduardo Jorge (PV) concorreu como vice da candidata à presidência Marina Silva (Rede). Em 2003, Gilberto Gil assumiu a pasta do Ministério da Cultura pelo PV, exercendo o cargo até 2008. É um dos partidos do país com menor número de parlamentares cassados, segundo o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. 

Futuro no Mundo

Com o agravamento das desordens ambientais, que ameaçam os mais diversos seres vivos do planeta, espera-se que haja mais espaço em todos os países para a atuação dos partidos verdes. Espera-se, também, que itens fundamentais de seu ideário permeiem mais e mais os outros partidos políticos.                                                                                                                            

Roberto Cenni

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