Plástico

A busca por um novo material leve, rígido e impermeável, com o intuito de substituir o marfim dos elefantes e os cascos e chifres bovinos, tornou-se um desafio para cientistas e pesquisadores, que através dos anos foram aprimorando suas descobertas e desenvolvendo derivados do que chamamos genericamente de plástico, termo usado para materiais que apresentam alta plasticidade e que se constituíram numa das maiores invenções do século XX.

O plástico é um material orgânico polimérico sintético, que tem o petróleo como matéria prima.  Este óleo mineral natural é formado por vários compostos que possuem diferentes temperaturas de ebulição, o que permite separá-los por meio de destilação; um dos seus componentes, a nafta, é submetido a processos químicos originando monômeros (como a creolina), cuja junção resulta nos polímeros, macromoléculas constituintes do plástico.  

A história do plástico começou em 1839, quando Charles Goodyear desenvolveu o sistema de vulcanização, com a adição de enxofre à borracha, o que a fazia mais resistente ao calor. Trinta anos depois surgiu o celuloide, desenvolvido pelo americano John Wesley Hyatt a partir da nitrocelulose e da cânfora, muito utilizado nas películas.

Em 1907 foi criado o primeiro polímero sintético, tido como o primeiro plástico, resultante da reação entre fenol e formaldeído, que foi chamado de baquelite, em homenagem a seu criador, Leo Baekeland. Caracterizando-se pela sua dureza, resistência ao calor e à eletricidade, ficou conhecido como “o material dos mil usos” e foi amplamente utilizado como isolante pela indústria elétrica. A B. F. Goodrich Company descobriu, em 1926, um método de aumentar a maleabilidade do plástico, expandindo bastante sua utilização, e assim o PVC tornou-se muito popular.

Na década de 1930, novos tipos de plástico foram desenvolvidos, como a poliamida, mais conhecida como nylon, muito usado na indústria da moda, que se expandiu ainda mais na década de 1950, quando a lycra foi desenvolvida. Após o término da Segunda Guerra Mundial, surgiram o isopor, o poliestireno, o laminado de fórmica e o vinil, e a partir daí o plástico rapidamente espalhou-se em várias áreas do cotidiano. Karl Ziegler e Giulio Nafta criaram o polipropileno e ganharam o Prêmio Nobel de Química em 1963; dez anos depois, a garrafa PET foi patenteada por Nathaniel Wyeth.

Como o plástico apresenta alta maleabilidade quando submetido a variações de calor e pressão, e devido a sua versatilidade (há rígidos, flexíveis, em forma de fita, de todos os tamanhos, cores e formas), o plástico foi intensamente difundido, sendo muito utilizado na confecção de objetos das mais variadas áreas, com grande presença nas vestimentas, nos brinquedos e nas embalagens em geral, dentre tantos outros produtos. Porém, como é um material sintético não biodegradável, demora bastante tempo para se decompor na natureza (a degradação do plástico pode levar de 200 a 400 anos). Em poucas décadas o plástico transformou-se em um problema de grande escala e o maior estrago que causa não está na quantidade que superlota os aterros sanitários, mas na sua disseminação no organismo dos seres vivos.

 A atuação do sol e dos raios UV por meio da oxidação desgasta o plástico, que se desfaz em partículas denominadas microplásticos, logo espalhadas pelo vento e por outros agentes, e entram na cadeia alimentar dos mais diferentes animais, incluindo o ser humano, causando sérios danos.

“É generalizado. Do invertebrado na Antártica, elefantes, passando por baleias e zooplâncton. Está todo mundo comendo plástico, não importa sua história evolutiva nem sua posição ecológica”, disse o pesquisador brasileiro Robson G. Santos em entrevista à National Geographic: Robson estudava as tartarugas-verdes marinhas e constatou grande incidência de plástico em tartarugas mortas. Na década de 1990 havia, no antigo Simba Safari, dois pacatos dromedários – o Camilo e a Carmela, sempre andando por entre os carros – que morreram por ingestão de sacos plásticos jogados pelos visitantes; na autópsia constatou-se a presença de mais de trinta sacos nos estômagos de cada animal.

Porém a pior contaminação por plástico está nos oceanos, com mais de 1,2 mil espécies afetadas, dentre elas todos os mamíferos marinhos e aves marinhas. Estima-se que 100 mil animais marinhos morrem anualmente devido a isto, sendo que mais de metade das tartarugas do mundo já ingeriram plástico, segundo a Universidade de Queensland, na Austrália; e conforme pesquisadores da Universidade da Geórgia, oito milhões de toneladas de plástico são jogados anualmente nos oceanos. Estima-se que se a contaminação por resíduos sólidos prosseguir conforme acontece hoje, em 2050 os mares terão mais lixo do que peixes, segundo o portal Folha de S. Paulo.

Os animais foram adaptados ao longo de milênios para rapidamente reconhecer alimentos e não identificam o plástico, achando que é comida; são ocorrências frequentes a tartaruga confundir sacola plástica com água-viva e a ave marinha carregar para seu ninho fragmentos de tampas plásticas.  Segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais da Universidade de Osnabrük, na Alemanha, o microplástico absorve elementos tóxicos que estão nos oceanos – como metais pesados, pesticidas e outros poluentes orgânicos persistentes (POPs), tornando-se ainda mais danoso à saúde da biodiversidade.

O plástico descartável apareceu em 1909, atendendo à necessidade de evitar o uso de xícaras comunitárias em trens americanos, visando à proteção contra a disseminação de doenças. Este tipo de plástico popularizou-se nos anos 1950 e apenas décadas depois constata-se a insensatez de se usar apenas uma vez um material que demora centenas de anos para se decompor.

A reciclagem do plástico, que começou a ser pensada no final da década de 1990, vem desenvolvendo tecnologias, porém no Brasil apenas 23,1% do plástico em 2021 foi recuperado ou reciclado.

Há os processos de reciclagem mecânica (obter formas diversas pela extrusão), química (despolimerização para criar novos produtos) e incineração ( redução de volume, com a queima gerando energia ).

A produção de plásticos biodegradáveis está se tornando cada vez mais viável e estuda-se o uso de fungos que se alimentam de poliuretano e de bactérias que podem degradar o plástico das garrafas PET.

Em publicação de outubro de 2022, o jornal Nature Communications relata a descoberta de que a saliva dos vermes da cera, ou traça das larvas, que vivem nos favos de mel das colmeias, têm duas enzimas que podem degradar o poliestireno, uma forma bastante comum de plástico (correspondente a 30% da produção geral), usada em sacos e outros materiais de embalagem. Observa-se que essas enzimas são capazes de desmembrar em poucas horas um material que foi constituído para ser bastante durável e assim possibilitar outros usos com as sobras resultantes. Trata-se da primeira enzima animal capaz de decompor o plástico e possibilitar uma bio-reciclagem.

Dentre as iniciativas para diminuir o problema, criou-se o “Julho sem Plástico”, proposta mundial para alertar sobre o impacto dessa poluição nos ambientes e nos seres vivos, que ganhou a adesão da revista científica Science. Em edição especial de 2021, a publicação afirma que “a hora de prevenir a poluição do plástico já passou – a hora de mudar o futuro dos plásticos em nosso mundo, entretanto, é agora”.                                                                                                                              

Roberto Cenni           

Imagem de Silke por Pixabay

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