O conceito de “limites planetários” refere-se aos limites seguros de operação dentro dos quais a humanidade pode manter um ambiente global estável e sustentável. Esses limites foram inicialmente introduzidos em 2009 por Johan Rockström e uma equipe de cientistas e têm sido atualizados ao longo do tempo à medida que nossa compreensão dos sistemas da Terra melhora.

Os nove limites planetários identificados pelos cientistas são os seguintes:

1. Mudanças Climáticas: Este limite está relacionado à concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, principalmente dióxido de carbono (CO2). O objetivo é limitar o aumento da temperatura global até 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no acordo de Paris, em 1992.  A elevação da temperatura média da Terra tem efeitos em todo o mundo, incluindo aumento do nível do mar, efeitos climáticos extremos, alterações nos ecossistemas e na biodiversidade, e muito mais. 

2. Perda de Biodiversidade: trata-se de preservar a diversidade de espécies e ecossistemas. O objetivo é evitar extinções em massa e manter um alto nível de biodiversidade. A biodiversidade desempenha um papel vital na prestação de serviços ecossistêmicos essenciais, como polinização de culturas agrícolas, purificação de água, controle de pragas e regulação do clima. Esses serviços são fundamentais para a sobrevivência e o bem-estar das espécies e das sociedades humanas.

3. Mudança no Uso da Terra: Este limite diz respeito à conversão de habitats naturais, como florestas e outros biomas, em áreas agrícolas ou urbanas. O objetivo é limitar a extensão da mudança no uso da terra, que representa uma das maneiras mais significativas pelas quais a atividade humana está alterando os sistemas naturais da Terra de maneira prejudicial. Veja aqui algumas razões pelas quais a mudança no uso da terra é considerada um limite crítico.

4. Uso de Água Doce: O uso de água doce é um dos limites planetários porque a água doce é um recurso finito e essencial para a vida na Terra, e a demanda humana por água está crescendo rapidamente. Este limite visa garantir a disponibilidade de água limpa e suficiente para sistemas naturais e sociedades humanas. Veja aqui algumas das razões pelas quais o uso de água doce é considerado um limite crítico.

5. Acidificação dos Oceanos: Este limite está relacionado ao aumento da acidez dos oceanos devido à absorção excessiva de CO2 atmosférico. O controle da acidificação dos oceanos envolve a redução das emissões de CO2 atmosférico, que é a principal causa da acidificação, bem como a mitigação dos impactos diretos sobre os ecossistemas marinhos. Manter o pH dos oceanos dentro de limites seguros é vital para preservar a biodiversidade marinha, proteger fontes de alimento e meios de vida e garantir o funcionamento saudável dos sistemas oceânicos, que desempenham um papel fundamental na saúde global do planeta e na regulação do clima.

6. Poluição Química: Este limite abrange a liberação de produtos químicos sintéticos no meio ambiente. A poluição química é um dos limites planetários porque envolve a introdução de substâncias químicas sintéticas no meio ambiente em quantidades que podem causar danos significativos aos ecossistemas e à saúde das espécies vegetais, animais e  humana. Veja aqui algumas razões pelas quais a poluição química é considerada um limite crítico para o planeta.

7. Carga de Aerossóis na Atmosfera: Este limite está relacionado à concentração de partículas finas na atmosfera. A carga de aerossóis na atmosfera é um dos limites planetários porque os aerossóis podem desempenhar um papel significativo na qualidade do ar, no clima global e na saúde humana. Veja aqui algumas razões pelas quais a carga de aerossóis na atmosfera é considerada um limite crítico.

8. Esgotamento da Camada de Ozônio Estratosférico: O esgotamento da camada de ozônio estratosférico é um dos nove limites planetários porque envolve a destruição de uma camada crucial da atmosfera da Terra, chamada camada de ozônio, que desempenha um papel vital na proteção da vida no planeta. Veja aqui por que.

9. Alteração de ciclos biogeoquímicos: Os ciclos biogeoquímicos são fundamentais para a saúde dos ecossistemas terrestres e aquáticos, para a produção de alimento e para a sustentabilidade do planeta como um todo. Nitrogênio e fósforo são essenciais para o crescimento das plantas, e por consequência essenciais para  todo o sistema alimentar. Quando usados em excesso, como fertilizantes nas grandes monoculturas, podem gravemente afetar solos e águas. Veja aqui mais razões pelas quais a ciclagem de nitrogênio e fósforo é tão importantes para o planeta.

    Os limites planetários estão interconectados, e ultrapassar um limite pode ter efeito um cascata sobre os outros. Como explica Luiz Marques no livro O Decênio Decisivo (2023, Ed. Elefante): “O colapso ambiental não é um evento com data marcada para ocorrer. Trata-se do processo em que estamos. Esse processo é sutilmente pontuado por sucessivos estágios de agravamento em intensidade, amplitude e frequência…”. O autor mostra também que  “… na ausência de uma mudança de trajetória radical e imediata, as ações humanas voltadas para a reversão desse processo precisarão ser cada vez mais radicais e serão cada vez menos efetivas, até se tornarem quase irrelevantes. Mudar a nossa trajetória de colapso requer não apenas parar de destruir a natureza agora, mas nos empenharmos em reconstruir o que foi destruído desde ao menos a década de 1950.”  

Podemos concluir que, ou invertemos de fato a rota, ou o planeta será cada vez menos um lugar habitável por humanos e outras formas de vida. Vamos conseguir? É preciso, como diz Edgar Morin, acreditar no improvável.

Imagem inicial: Furacão Katrina, NOAA, no site Geology.com

Imagem: Garimpo na terra indígena Munduruku, no Pará, maio de 2020. É possível ver a devastação da vegetação e a formação de crateras no local. — Foto: Chico Batata/Greenpeace

Gráfico: Evolução dos Limites Planetários. Em vermelho, os limites ultrapassados. Azote for Stockholm Resilience Center, Stockholm University. Based on Richardson et al. 2023, Steffen et al. 2015, Rockström et al. 2009.

Principal referência: Johan Rockström: Breaking Boundaries – The science behind our Planet, 2021, DK Publishing.

Sugestão: na Netflix, um documentário com o mesmo título (Breaking Boundaries), narrado pelo próprio Johan Rockström e por  David Attenborough.

Maristela Jardim Gaudio