O CALOR NAS CIDADES

Fenômeno comum em centros urbanos, as ilhas de calor são mais intensas em regiões onde há grande quantidade de prédios. Durante o dia, o pavimento absorve ardor e o concreto e a alvenaria das edificações recebem radiação solar e armazenam essa energia, cujo calor é refletido em várias direções. Além do aquecimento das construções, as ilhas de calor resultam da produção das indústrias e da intensa circulação diária de pessoas e de veículos, mas o principal fator é a estrutura das cidades que não permite a circulação de ar.

Em reportagem do Business Insider há estudos de especialistas sobre os riscos de extremas ondas de calor e inundações que ameaçam seriamente dez cidades em todo o mundo. Em Miami, o nível do mar pode subir 1,8 m e irá comprometer grandes áreas da cidade. Nova Orleans é das cidades norte-americanas mais propensas a inundações, ameaçando muitos residentes. Chicago sofre ondas de calore 700 pessoas morreram em decorrência disto em 1995. Dubai localiza-se no Golfo Pérsico, região comprometida por calor excessivo. Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, já registrou temperaturas de 52°C. Xangai pode ser uma das cidades mais atingidas da Planície do Norte da China, região que corre o risco de receber neste século as piores ondas de calor no mundo. Pequim também é ameaçada pelas ondas de calor, situação agravada pela má qualidade do ar, considerada letal. Nova Déli tem uma poluição que provoca vários danos à saúde e, similar a cidades ao sul da Ásia, pode atingir altíssimas temperaturas. Daca, como outros centros urbanos de Bangladesh, está sujeita a ondas de calor e inundações, tendo recebido muitos migrantes que fogem das enchentes do país. Lagos, cidade nigeriana cuja população tem crescido bastante, pode registrar muitas mortes nos próximos anos devido às inundações. Em 2021, o Kuwait, com 53,5°C, foi considerada a cidade mais quente do planeta.

No Brasil, os estados do Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Piauí, Tocantins e Mato Grosso do Sul possuem várias cidades que aparecem com frequência nas listas das mais quentes do país. Cuiabá já foi citada algumas vezes pelo site Hot Cities como uma das cidades mais quentes do mundo. Em setembro de 2021, em um único dia, o Brasil registrou mais de 40°C em 41 municípios pertencentes às cinco regiões do país, sendo Corumbá a cidade mais quente, segundo o Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia.

As altas temperaturas levam a um maior consumo de ar condicionado, cujos aparelhos dependem de energia elétrica vinda de combustíveis fósseis, que emitem carbono e assim propagam o efeito estufa, produzindo mais calor. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia, o ar-condicionado consome 10% da eletricidade em todo o mundo, porém estima-se que tal porcentagem deva triplicar até 2050, e assim forma-se um círculo vicioso no planeta.

Uma boa alternativa para diminuir as temperaturas nas cidades é o plantio de árvores, que absorvem o calor no processo de evapotranspiração, soltando água para a atmosfera, além de impedir que o sol atinja o asfalto, elemento que se impregna de calor. Estudos concluíram que plantar 25% a mais de árvores em uma cidade será suficiente para abaixar a temperatura em 2,5°C. Conforme a Organização das Nações Unidas, o aconselhável é que se tenham pelo menos 18 m² de área verde por habitante.

Segundo divulgou a BBC, as ondas de calor de Karachi, a maior cidade do Paquistão, têm provocado milhares de mortes e para combater isso criou-se a organização Urban Forest, que tem implantado áreas verdes em toda a cidade; a intenção é plantar 70 mil árvores em diversos espaços nos próximos anos.

A atuação das áreas verdes na temperatura pode ser constatada em Phoenix, no Arizona, dentro do deserto de Sonora, uma das cidades mais quentes dos Estados Unidos, com temperaturas ultrapassando 44°C. Há um planejamento para que se torne a primeira metrópole americana adaptada ao aquecimento global, e, dentre as medidas implementadas, está a pintura do asfalto de branco, que aumenta muito a reflexão do sol, e o sombreamento, por meio da plantação de árvores em um quarto da área urbana, criando assim os “corredores refrescantes”.

Roberto Cenni

foto: Corumbá, wikipédia