Um museu em São Paulo idealizado e protagonizado pelos povos originários.
Nós e nossas histórias.
O Museu das Culturas Indígenas, na Água Branca, na Zona Oeste da capital paulista, é um espaço de gestão compartilhada entre a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo em parceria com a organização social ACAM Portinari e com o Instituto Maracá, associação sem fins lucrativos que tem como finalidade a proteção, difusão e valorização do patrimônio cultural indígena.
Faz parte do Instituto Maracá, o líder indígena, pensador e escritor, Ailton Krenak, da etnia Krenak, o cineasta e líder espiritual, Carlos Papá, da tribo Guarani Mbya, e a filósofa e educadora Cristine Takuá, do Povo Maxacali. No conselho indígena, Davi Kopenawa, da tribo Yanomami, Sandra Benites, do povo Guarani Nhandeva, e Siã Huni Kuin, da tribo dos Kaxinawá.
O museu foi idealizado e proposto por lideranças indígenas, tem curadores, artistas e realizadores indígenas.
A proposta do espaço é trazer um diálogo intercultural, múltiplo e encontros entre povos indígenas e não-indígenas, onde a memória da ancestralidade permite aos diversos povos originários compartilharem suas mensagens, ideias, saberes, conhecimentos, filosofias, músicas, artes e histórias.
Ao visitar o museu de sete andares, estão lá, como diz Ailton Krenak, no seu livro ‘Ideias para Adiar o Fim do Mundo’, “centenas de narrativas de povos que estão vivos, contam histórias, cantam, viajam, conversam e nos ensinam mais do que aprendemos nessa humanidade.”
Vamos lembrar que existem 250 etnias no país, que falam mais de 150 línguas e dialetos.
Programação e Proposta
O Museu oferece exposições, rodas de conversas, palestra, perfomances e toda uma rica programação. Lá estão presentes indígenas para nos contar, explicar e orientar. Do lado externo, é possível também admirar e comprar arte e artesanato diretamente dos criadores.
Em uma das salas, há produções contemporâneas sonoras e visuais. Assim como desenhos, depoimentos e homenagens pelas paredes.
No dia da visita, a mostra “Ygapó: Terra Firme”, do artista e curador Denilson Baniwa, convidava para adentrar a floresta Amazônica por meio de experiências sensoriais.
Através de diferentes criadores e linguagens artísticas, temáticas de resistência e luta pelos direitos indígenas em ”Ocupação Decoloniza-SP Terra Indígena”.
Em “Invasão Colonial ‘Yvyopata’ A Terra Vai Acabar”, o artista Xadalu Tupã Jekupé, traz com estética na arte urbana contemporânea, a demarcação dos deslocamentos territoriais e o território identitário indígena ameaçado pela sociedade ocidental.
A ideia da curadoria de Sandra Benites é trazer outro olhar e outra forma de entender nossa origem no mundo, através do ponto de vista de quem nunca protagonizou sua própria voz no território compartilhado com os invasores. É necessário um processo, como diz a curadora, que se pareça ao “reflorestamento da visão”.
O território, na percepção indígena, não é algo que vive separado do seu corpo, do seu movimento, e de sua caminhada.
Como bem diz Benites, olhar para as obras de arte indígena é reaprender a se comunicar com a terra e com os produtores deste pensamento. A proposta é abrir caminhos para que exista a possibilidade para os não indígenas penetrarem na forma de pensar e na história dos povos indígenas, para assim, caminharmos juntos e chegarmos a um entendimento comum acerca da terra que compartilhamos.
Eduardo Viveiros de Castro, no posfácio do livro ‘Ideias para Adiar o Fim do Mundo’, de Ailton Krenak, escreve “…, aqueles povos, que fomos ensinados a ver como sobrevivência de nosso passado humano – povos forçados a “subviver” no presente em meio às ruínas de seus mundos originários – se mostram inesperadamente como imagens de nosso próprio futuro.”
Porque, como diz o sábio Krenak, “Se as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências que são sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos.”
Temos muito que nos encantar e aprender. Vai lá.
Joana Curvo
SERVIÇO
Museu das Culturas Indígenas
Terças, Quartas, Sextas, Sábados e Domingos das 09h às 18h – Quintas das 09h às 20h
Endereço: R. Dona Germaine Burchard, 451 – Água Branca, São Paulo/SP
Contato: (11) 3873-1541 ou contato@museudasculturasindigenas.org.br
LIVRO
Krenak, Ailton: Ideias para adiar o fim do mundo, Editora Companhia das Letras, 2019
Leia também:
ENTRAVE PARA A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS: O PL 490