Crisálida apresenta um dossiê de cinco artigos sobre o branqueamento e a morte dos corais no mundo todo, começando por essa divulgação da ONU de um trabalho coordenado por Ruben van Hooidonk, intitulado “Local-scale projections of coral reef futures and implications of the Paris Agreement”. Nature Scientific Reports, 6, published online 21/XII/2016. (Veja <http://www.nature.com/articles/srep39666>).
Os corais são animais cnidários que secretam um exoesqueleto formado por calcário ou por matéria orgânica. Vivem em colônias consideradas “superorganismos” que constituem celeiros incomparáveis de vida marítima. Ken Caldeira, da Stanford University, cita estimativas segundo as quais “mais de um quarto de todas as espécies marinhas passam parte de suas vidas em recifes de coral”. (Veja Ken Caldeira, “The Great Climate Experience. How far can we push the climate”. Scientific American, Setembro de 2012)
Os corais são âncoras de vários sistemas marinhos e seu desaparecimento pode ser terminal para a vida submarina. Esse é o veredito de uma declaração redigida no Congresso realizado em Oxford pela International Program on the State of the Ocean (Ipso) e assinada em junho de 2011 por 27 cientistas de 18 organizações de 6 países: “o oceano corre alto risco de entrar em uma fase de extinção das espécies marinhas sem precedentes na história humana” (Veja-se: http://www.stateoftheocean.org/ipso-2011-workshop-summary.cfm: “The world’s ocean is at a high risk of entering a phase of extinction of marine species unprecedented in human history. e Amy Schneider, “The Changing Tide”. Eugeneweekly.com, 16/IV/2015).
A mais importante causa mortis dos corais é o aquecimento das águas. Esse aquecimento ocasiona a morte dos seus pólipos ao causar a destruição das zooxantelas, algas unicelulares coloridas que vivem dentro do celêntero dos pólipos e lhes fornecem alimentação através da fotossíntese, além de suas cores. Com a morte dessas algas, ocorre um processo chamado branqueamento do coral (coral bleaching), do qual raramente ele se recupera.
Apenas o pico de calor ocorrido em 1998 matou cerca de 10% de todos os recifes de coral dos oceanos. E segundo estimativas da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), publicadas em outubro de 2015, “algo como 38% dos recifes de corais sofrerão branqueamento este ano” (Veja “The great coral die-off”. New Scientist, 17/X/2015, p. 6). A “grande aceleração” da degradação da biosfera, típica do Antropoceno, mostra aqui outra de suas numerosas características.
Além disso, minúsculas partículas de plástico foram encontradas em profundidade nesses pólipos, alterando a capacidade de alimentação desses organismos. (Veja HALL, N. M.; BERRY, K. L. E.; RINTOUL, L. & HOOGENBOOM, M. O., “Microplastic ingestion by scleractinian corals”. Marine Biology, 162, 3, 2015, p. 725).
Outras causas da morte dos recifes de corais são a acidificação das águas por absorção crescente de CO2, a descarga direta de esgoto e efluentes domésticos e industriais ou o uso de dinamite ou cianeto para matar peixes, o que destrói ou envenena os recifes. Segundo o ReefBase A Global Information System for Coral Reefs (a partir de dados do World Atlas of Coral Reefs do UNEP-World Conservation Monitoring Center), a pesca com dinamite e/ou cianeto, embora proibida desde 1985, continua a ser praticada, por exemplo, na Indonésia, a nação que detém, ao lado da Austrália, os maiores recifes de corais do mundo.
Até 90% dos recifes de corais nos mares das ilhas Maldivas no Atlântico sul e das ilhas Seychelles no Oceano Índico já foram mortos pelo aquecimento global. Em apenas 27 anos (1985-2012), a Grande Barreira de Corais, de dois mil quilômetros na costa leste da Austrália – uma reserva crucial para a sobrevivência de 400 espécies de corais, 1500 espécies de peixes e 4000 espécies de moluscos –, foi destruída em 50%, vítima dos portos industriais, do aquecimento global, da acidificação do oceano e do acantáster, uma estrela-do-mar por cuja proliferação o agronegócio é o principal responsável, ao despejar no mar quantidades crescentes de fertilizantes agrícolas à base de nitrato. Nesse ritmo de destruição, os corais deverão se reduzir novamente pela metade em 2022. (Veja M.-M. Le Moël, “La moitié des coraux de la Grande Barrière australienne ont disparu”. Le Monde, 4/X/2012; Australian Institute of Marine Science, “The Great Barrier Reef has lost half of its coral in the last 27 years”, 2/X/2012).
Luiz Marques
Segundo a ONU Meio Ambiente, os corais são um dos ecossistemas mais importantes do planeta e estão perdendo suas cores devido aos impactos da mudança climática. Recifes de corais já estão sob ameaça devido à pesca excessiva e ao turismo e são muito vulneráveis à mudança climática porque são afetados facilmente pelo aquecimento das águas.
Se as tendências atuais continuarem e o mundo deixar de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, quase todos os recifes de coral do mundo sofrerão branqueamento severo, alertou na quinta-feira (5) um novo estudo do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA).
Segundo a agência, os corais são um dos ecossistemas mais importantes do planeta e estão perdendo suas cores devido aos impactos da mudança climática.
Pelas projeções do estudo, os recifes de Taiwan e das ilhas caribenhas Turcas e Caicos serão os primeiros a enfrentar o branqueamento anual. Algumas décadas depois, será a vez dos corais do Barein, do Chile e da Polinésia Francesa perderem suas cores.
Segundo o chefe do PNUMA, Erik Solheim, “as previsões representam um tesouro para os que lutam para proteger um dos ecossistemas mais magníficos e importantes do mundo. Com os dados, pesquisadores e governos poderão agir antes que seja tarde demais e priorizar a conservação”.
O estudo aponta que, em média, os corais vão começar a sofrer um branqueamento anual a partir de 2043. Sem o mínimo necessário de cinco anos para a regeneração, as ocorrências anuais terão um efeito mortal sobre os corais e perturbarão os ecossistemas que eles suportam.
No entanto, se os governos assumirem as promessas do Acordo de Paris e reduzirem as emissões de gases, os recifes terão mais 11 anos para se adaptar ao aquecimento da água do mar antes de começarem a perder a coloração.
Entre 2014 e 2016, houve o maior branqueamento já registrado no mundo, que matou corais numa escala sem precedentes. No ano passado, 90% da Grande Barreira de Corais da Austrália sofreu branqueamento e mais de 20% dos recifes da região acabaram morrendo.
Os recifes de corais já estão sob ameaça devido à pesca excessiva e ao turismo e são muito vulneráveis à mudança climática porque são afetados facilmente pelo aquecimento das águas.
Quando a temperatura do mar sobe, as algas que dão as cores vibrantes aos corais saem do hospedeiro, fazendo com que os corais fiquem brancos. Sem as algas, os corais correm risco de passar fome e ficam suscetíveis a doenças. Acesse o estudo clicando aqui.