Imagens de plásticos nas praias, nos lixões, no estômago de animais marinhos e terrestres, e boiando em ilhas nos oceanos são bem conhecidas do grande público. Mas a poluição do microplástico passa desapercebida. Durante o encontro de representantes de 175 países, em Paris, em Maio de 2023, destinado a discutir e possivelmente limitar a produção mundial de plástico, foi lançado o projeto The Plastic Forecast ou previsão do plástico. Trata-se de um projeto da fundação australiana Minderoo, que combina a pesquisa sobre os microplásticos na atmosfera com a previsão do tempo, para calcular a “chuva” diária de microplásticos em uma determinada região. O local escolhido para o lançamento do projeto e para a previsão diária da “chuva de microplásticos” foi Paris, onde “chovem” 40 toneladas de plástico por ano.
Inimigo Invisível
Microplásticos, minúsculas partículas de plástico de menos de 5mm, tornaram-se uma questão ambiental importante nos últimos anos. Essas partículas resultam da degradação de objetos maiores, através de vários fatores ambientais, ou são produzidas diretamente e usadas na fabricação de outros produtos, como cremes esfoliantes, gel para banho, algumas pastas de dente, etc. Os microplásticos podem ser encontrados em todos os ecossistemas, da profundidade dos oceanos às mais altas montanhas, rios, solos, alimentos, no ar que respiramos e até na estratosfera. Enquanto o impacto dos microplásticos na vida marinha é bem documentado, o efeito potencial na saúde humana causa uma crescente preocupação.
Milhões de toneladas
O primeiro plástico, a baquelite, data do início do século XX (veja aqui a matéria do Ecovirada sobre o plástico e a sua história). Atualmente, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas a cada ano em todo o mundo, e metade deste plástico é projetada para ser usada apenas uma vez, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Da produção total, menos de 10% é reciclada – leia aqui a matéria da National Geographic.
Efeitos para saúde humana
Estudo mostra partículas de plástico em 80% das pessoas testadas. Presentes no sangue, os microplásticos podem se movimentar pelo corpo e se alojar em órgãos, causando diversas doenças. Ingeridos por meio da água ou alimentos, podem causar problemas gastrointestinais, inflamações e mudanças importantes no microbioma intestinal. Inalados, causam inflamação no sistema respiratório e piora em doenças preexistentes, como a asma. Os efeitos da absorção pela pele, através de produtos cosméticos, ainda são pouco conhecidos, mas preocupam. As consequências para o sistema endócrino e imunológico são notáveis, aumentando a predisposição para diversas doenças, câncer inclusive. Leia a excelente matéria do site ecycle sobre um importante elemento usado na fabricação de diversos plásticos, os bisfenóis, um grande disruptor hormonal.
Conclusão óbvia
A produção de plástico deveria diminuir em milhões de toneladas. Não deveriam ser produzidos objetos inúteis e de monouso. A reciclagem deve aumentar exponencialmente, e a educação ambiental também. As descobertas tecnológicas e científicas úteis na proteção da saúde, da biodiversidade, dos ecossistemas, e do planeta em geral, devem substituir as que o tēm destruído, a nossa casa comum. Áreas destruídas ou degradadas pela poluição devem ser regeneradas. Mas os donos do dinheiro e do poder vão permitir?
Maristela Jardim Gaudio
foto 1: www.theseacleaners.org
foto2: conexãoplaneta.com.br
foto 3: estadão sustentabilidade