Mensagem de fim de ano:  não desistir!

Neste ano de 2024 evidenciou-se, mais que nunca, uma convergência aguda de dez crises sistêmicas, a maioria delas sem precedentes na história humana. Antes de mais nada, 2024 terá sido o ano mais quente dos últimos 200 anos e, com quase toda certeza, dos últimos 120 mil anos. Em 16 dos 17 últimos meses, a temperatura média do planeta ultrapassou 1,5 C acima do período pré-industrial. A aceleração recente do aquecimento é inequívoca: entre 1970 e 2010, a superfície do planeta aqueceu 0,18 C por década. Desde 2011, essa taxa saltou para cerca de 0,3 C por década. No próximo decênio (ou no mais tardar nos anos 2040), o planeta estará 2 graus C mais quente do que no período pré-industrial, uma temperatura jamais atingida nos últimos 2,58 milhões de anos (o período geológico Quaternário). É impossível afirmar que a espécie humana tenha condições de se adaptar a esse novo estado do clima. E mesmo que consiga, essa adaptação implicará muito sofrimento. A essa emergência climática se acrescentam outras 9 crises, não menos ameaçadoras:
(1) o declínio fulminante da biodiversidade, com perda crescente de vegetação nativa e incêndios florestais gigantescos, causados sobretudo pelo agronegócio;
(2) a degradação dos solos, que se estende já por 15 milhões de km2 e se expande agora à taxa de 1 milhão de km2 por ano;
(3) a elevação do nível do mar (cerca de 4,5 mm / ano em média) com alteração dos ecossistemas costeiros, salinização dos deltas e destruição das praias e da infraestrutura urbana;
(4) a intensificação dos eventos meteorológicos extremos, com alternância de maiores e mais frequentes secas e inundações;
(5) o aumento da poluição químico-industrial, na atmosfera, nos solos e no meio aquático, sobretudo de plástico, agrotóxicos e fertilizantes;
(6) o aumento dos impactos sanitários dessa poluição sobre os organismos;
(7) o aumento das tensões geopolíticas e das guerras, com perda de credibilidade das incipientes instâncias de governança global e retomada da corrida armamentista, sobretudo entre as potências nucleares;
(8) uma regressão da democracia combinada a um aumento das desigualdades, com alguns indivíduos detendo agora mais riqueza do que os 50% mais pobres da humanidade
e (9) maior manipulação das mentes e corações pelos algoritmos de parte das redes digitais, controladas pelas Big Techs.

Diante desse quadro, o pior que poderia nos acontecer seria ceder ao desespero. Ao contrário, é justamente em situações-limite como a que estamos vivendo, que brotam novas energias e que as sociedades se mobilizam, simplesmente porque precisam se mobilizar. No Brasil, o inimigo Número 1 de nossa sociedade é o agronegócio e é contra ele que nossas lutas devem se concentrar. Individualmente, por exemplo, reduzindo ou zerando nosso consumo de carne (ou pelo menos de carne bovina, pois a pecuária bovina é responsável por 90% do desmatamento da Amazônia). Mas, sobretudo, coletivamente, nos organizando, divulgando ao máximo informação qualificada sobre essas 10 grandes crises planetárias e exigindo do governo brasileiro políticas MUITO MAIS corajosas de apoio aos indígenas, aos quilombolas, aos povos da floresta em geral, à agricultura produtora de alimentos saudáveis, aos trabalhadores rurais sem terra (MST), aos trabalhadores sem teto (MTST), aos movimentos das periferias urbanas e a todos – estudantes, trabalhadores, cientistas, setores progressistas de todas as religiões e Igrejas -, em suma, a todos os que lutam pela manutenção da vida e pelo triunfo do direito sobre a força. Que 2025 traga novas energias, um novo impulso às nossas lutas em direção a uma ecovirada!

Luiz Marques – Dezembro 2024

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