im-brochável
Muitos têm sido os comentários sobre o coro puxado por Jair Bolsonaro nas comemorações de 7 de setembro, 200 anos do Brasil; dentre eles há perscrutantes olhares!

“Imbrochável”: negando “brochável” (in/im é um prefixo de negação), a palavra derivada de brocha não deixa de constelar este último sentido na mente de quem a ouve. Freud comentava que quando uma paciente lhe dizia algo como “sonhei com uma mulher, mas ela não era minha mãe”, ele tinha certeza de que havia um elo entre a mulher do sonho e a mãe.

A ideia de que a negação antes afirma o que nega já era parte do expediente criativo de Stéphane Mallarmé na segunda metade do século XIX. Um pequeno exemplo pode ser visto logo no início do poema francês Billet.

Freud se popularizou entre nós e esta lógica da negação incomodamente afirmativa faz parte da explicação dada pelo repórter do New York Times, Jack Nicas, à tradução por ele escolhida, “never limp”, em sua cobertura dos últimos eventos políticos brasileiros. Sobre isso e outros recentes desafios de tradução (tchutchuca do centrão, motociata), vale ler a matéria publicada em 11 de setembro de 2022, no UOL, de Edison Veiga, jornalista que vive em Bled, na Eslovênia:  “Imbrochável”: New York Times incorpora o vocabulário do governo Bolsonaro.

Rosie Mehoudar, 11 de setembro de 2022

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