Golfinhos de Faroé

A matança dos 1.400 golfinhos em um só dia nas Ilhas Faroé, território dinamarquês, aconteceu em 12 de setembro de 2021, mas as imagens dos animais sangrando esquartejados na praia ainda vão reverberar por muito tempo; a notícia percorreu as primeiras páginas dos periódicos de todo o mundo, causando muita indignação.

A caça de mamíferos marinhos (principalmente baleias-piloto), conhecida como grindadrap,  é uma tradição que ocorre há centenas de anos nas Ilhas Faroé. Não é uma prática comercial, trata-se de uma forma sustentável de obter alimento da natureza coordenada pela comunidade local de forma espontânea, o que não a isenta de ser uma barbárie.

Barcos conduziram os golfinhos-de-faces-brancas para o maior fiorde do Atlântico Norte e os empurraram para águas rasas, onde foram mortos e esquartejados a facadas, enquanto centenas de pessoas assistiam, sendo as carcaças levadas para a praia e distribuídas para o consumo dos moradores da região.

Em pesquisa recente, o Reino Unido incluiu caranguejos, lagostas, polvos e lulas na categoria de seres sencientes, ou seja, os que são capazes de ter emoções como dor e angústia. Pode-se imaginar o que sentiram os golfinhos, com fêmeas grávidas e crias, vivendo essa chacina.

Os golfinhos estão entre os animais mais inteligentes do planeta, e existem trinta e sete espécies conhecidas que vivem em águas salgadas e doces (os botos). Chegam a saltar até cinco metros acima da água, são brincalhões, dão nomes aos companheiros, emitem sons em diversas frequências e têm o sentido biossonar, orientando-se por ecos para nadar entre obstáculos ou caçar suas presas.

As críticas à caça nas Ilhas Faroé já vêm de décadas, tendo sido intensificadas com o lançamento do documentário “Mar Vermelho”, no início de 2021. Os defensores da prática afirmam que se usa uma lança especialmente projetada para cortar a medula espinhal do mamífero antes de cortarem o pescoço, o que provocaria uma morte muito rápida. “Do ponto de vista do bem-estar animal é uma boa maneira de matar a caça, muito melhor do que manter vacas e porcos presos”, afirmou um deputado da região, porém foi prontamente contestado pelo grupo ambientalista Sea Shepherd.

Estamos no terceiro milênio, não são mais aceitáveis práticas culturais que resultem em sofrimento e morte em massa de qualquer ser, pior ainda tratando-se de golfinhos, tão sensíveis e perspicazes. Em meio às alternativas da globalização, surge a oportunidade de pressionar comunidades para que arrefeçam suas práticas desumanas; apesar de longe do ideal, nota-se em vários países o aumento do consenso para salvaguardar os animais e não lhes impor sofrimento.

Roberto Cenni

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