Ecopoesia – Homero Aridjis

Homero Aridjis nasceu em Contepec, México, em 1940, filho de pai grego e mãe mexicana. É considerado o poeta mais importante do México, honraria que recebeu após a morte de seu amigo Octavio Paz. Foi diplomata, como Paz e Pablo Neruda, atuando como embaixador de seu país na Suíça, na Holanda e na Unesco, durante a década de 1970.

A natureza próxima à sua casa maravilhava Homero, que gostava de ouvir os pássaros e observar as tantas borboletas Monarca nas árvores. Quando já trabalhava como diplomata e professor, anos depois voltou ao lugar onde havia passado a infância e entristeceu-se ao ver que muitas árvores tinham sido cortadas, poucos pássaros apareciam e as borboletas Monarca não voavam mais por lá.

Perturbado ao constatar as graves ameaças ao meio ambiente, Aridjis criou em 1985 o Grupo dos 100, uma organização ambientalista que reuniu artistas e intelectuais prestigiados de vários países (como Octavio Paz, Leonora Carrington e Gabriel Garcia Marquez), defendendo a biodiversidade no México e nas regiões próximas e lutando pelos direitos dos povos indígenas. Muitos êxitos foram alcançados, como a preservação das florestas que hospedam a borboleta Monarca no inverno, a melhora do ar na Cidade do México, a proibição da caça às tartarugas marinhas e a preservação das lagoas na Baixa Califórnia, onde a baleia cinza se reproduz e lá cria seus filhotes.

Entrevistado pela imprensa, declarou: “Os interesses políticos econômicos subjacentes à predação ambiental são enormes. Por causa de minhas lutas, recebi ameaças de morte, tive que enfrentar muitos obstáculos e fui censurado como escritor em muitas ocasiões por políticos, desde que fundei o Grupo dos Cem, a organização de intelectuais e artistas pelo nosso direito de respirar ar puro e beber água limpa”.

Sua atividade literária sempre apresentou vigoroso ativismo na defesa do meio ambiente, “contra a arrogância de uma sociedade voltada a um lucro cego, que não poupa nada e nem ninguém”. Com reconhecimento mundial, suas conquistas pelo meio ambiente resultaram em muitos prêmios, como o John Hay, da Orion Society; o Prêmio Força pela Natureza, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais; o Prêmio Green Cross Millennium, por Liderança Ambiental Internacional (junto a sua esposa Betty Ferber), concedido por Mikhail Gorbachev; e o Prêmio Global 500, do Programa Ambiental das Nações Unidas, em nome do Grupo dos 100.

Sobre sua motivação, afirmou: “Defender as causas ambientais continua sendo um impulso, um sonho, uma necessidade da minha existência. Como perseguir para sempre as criaturas dos nossos sonhos de criança. Yeats disse que nos sonhos começa nossa responsabilidade, e para mim não há nada mais forte e mais convincente do que essa prioridade”.

Preocupado com a alienação dos dirigentes de grandes países ocidentais, afirma que “Trump é um analfabeto ambiental, cultural, moral, deve ser educado. É contra tudo que migra, seres humanos e espécies. Sem estar ciente disso, é contra seus ancestrais, que vieram ao Novo Mundo em busca de oportunidades. Nos éons cósmicos, é uma bolha e como uma bolha desaparecerá”. Para proteger a vida, acredita que “é urgente, necessário e fundamental a constituição de um tribunal ambiental internacional para processar criminosos ambientais como Bolsonaro, Evo Morales e aqueles que produzem bombas nucleares, bem como diretores de empresas que poluem a terra e os oceanos, lagos, rios e o ar”. Aridjis, em Os Tempos do Apocalipse, denunciou a violação da natureza, e afirma: “o apocalipse já começou e é ambiental, durará séculos, talvez milênios. No meu livro, do qual Luis Buñuel quis extrair seu testamento cinematográfico, escrevi : `O apocalipse será obra do homem, não de Deus, e não será escrito no livro do Apocalipse. Vivemos ameaçados por milhares de bombas nucleares”.

Comparando seus escritos à salvaguarda da natureza, afirma: “a ecologia é como poesia, deve incluir e envolver todos. Não faço nenhuma distinção entre poesia e ecologia, fazem parte de um único louvor à criação, à natureza da vida. Indistinguíveis uma da outra.” Apesar de priorizar o meio ambiente, dedicou-se também a temas como o amor, a sensualidade e a morte, inspirando-se nos mitos clássicos ocidentais e não ocidentais. É autor de mais de 50 livros de poesia e de romances, muitos deles traduzidos para 12 idiomas, além de peças teatrais e histórias infantis. A imagem da borboleta Monarca ameaçada de extinção está presente em quase todos os seus escritos.

Aridjis é considerado um dos intelectuais de maior importância no México, sendo conhecido como a “alma poética” do ambientalismo mexicano. Os escritores, filósofos e eruditos dos países por onde sua obra se expandiu sempre o elogiaram pela rica imaginação e por sua poesia de beleza lírica. Deu aulas em universidades norte-americanas, recebeu diversos prêmios por suas obras literárias e foi por seis anos presidente da PEN – Poets, Essayists and Novelists, associação mundial dos escritores criada em Londres.

Ecopoesia – Homero Aridjis
Y Dios creó las grandes ballenas
       
  Génesis, 1:21
A Betty
Y Dios creó las grandes ballenas
allá en Laguna San Ignacio,
y cada criatura que se mueve
en los muslos sombreados del agua.

Y creó al delfín y el lobo marino,
a la garza azul y a la tortuga verde,
al pelícano blanco al águila real
y al cormorán de doble cresta.

Y Dios dijo a las ballenas:
‘Fructificad y multiplicaos
en actos de amor que sean
visibles desde la superficie

sólo por una burbuja,
por una aleta ladeada,
asida la hembra debajo
Por el largo pene prensil;

que no hay mayor esplendor del gris
que cuando la luz lo platea.
su respiración profunda
es una exhalación’.

Y Dios vio que era bueno
que las ballenas se amaran
y jugaran con sus crías
en la laguna mágica.

Y Dios dijo:
‘Siete ballenas juntas
hacen una procesión.
Cien hacen un amanecer’.

Y las ballenas salieron
A atisbar para Dios entre
las estrías danzantes de las aguas.
Y Dios fue visto por el ojo de una ballena.

Y las ballenas llenaron
los mares de la tierra.
Y fue la tarde y la mañana
del quinto día.

Laguna San Ignacio
1 de marzo de 1999
 (Aridjis, Homero. “El ojo de la ballena.” Eyes to See Otherwise: Selected Poems = Ojos, de otro mirar. Ed. Betty Ferber y GeorgeMcWhirter. New York: New Directions Book, 2002. p. 282.)
E Deus criou as grandes baleias [tradução por IA]
Gênesis, 1:21
À Betty
E Deus criou as grandes baleias
lá na Laguna San Ignacio,
e cada criatura que se move
nas coxas sombreadas da água.

E criou o golfinho e o lobo-marinho,
a garça-azul e a tartaruga-verde,
o pelicano-branco, a águia-real
e o corvo-marinho-de-duas-cristas.

E Deus disse às baleias:
‘Frutificai e multiplicai-vos
em atos de amor que sejam
visíveis desde a superfície

apenas por uma bolha,
por uma nadadeira inclinada,
a fêmea segurada abaixo
pelo longo pênis preênsil;

pois não há maior esplendor no cinza
do que quando a luz o prateia.
sua respiração profunda
é uma exalação’.

E Deus viu que era bom
que as baleias se amassem
e brincassem com suas crias
na lagoa mágica.

E Deus disse:
‘Sete baleias juntas
fazem uma procissão.
Cem fazem um amanhecer’.

E as baleias saíram
A espreitar Deus entre
as estrias dançantes das águas.
E Deus foi visto pelo olho de uma baleia.

E as baleias encheram
os mares da Terra.
E foi a tarde e a manhã
do quinto dia.






artigo: Roberto Cenni, setembro de 2024

Imagens: borboletas Monarca (site DU LICH PetroTime);  olho da baleia (Erick Kilby/ Flicks)

Categorias: