A situação atual parece se configurar como um ataque acelerado ao país por grupos distintos, mas com um importante objetivo comum: saquear o país em proveito próprio. Usurpam bilhões através do orçamento secreto (enquanto uma parte considerável da população sofre de fome, de falta de habitação e de assistência sanitária, direitos garantidos pela constituição). Saqueiam o ouro, outros minérios e a madeira da Amazônia. Promovem invasões, ataques e pseudo acordos para expulsar os indígenas de suas terras e se apropriar delas. Legalizam a grilagem, o garimpo ilegal e os piores agrotóxicos. Dispensam o licenciamento ambiental e as consultas às comunidades, anulam multas e penalidades. Um delegado na presidência da Funai impede que equipes da Fiocruz façam pesquisas e levem assistência aos Yanomami, cujos rios, peixes, caça e crianças estão contaminados pelo mercúrio do garimpo. Tribos isoladas tēm seus territórios invadidos e estão à beira da extinção.
Entre os associados ao projeto de aceleramento do saque, neste último ano do governo, um certo número de militares, ainda na ativa, com salários que furam o teto, e prontos a fazer a própria parte (veja-se o General Heleno, que autorizou o garimpo numa das áreas mais protegidas da Amazônia, e o General Pazuello, que obedecendo ao presidente foi o causador de um enorme número de mortos por Covid). O Congresso, conivente na sua grande maioria, engaveta pedidos de impeachment e age para fazer aprovar as leis que favorecem o saque. Todos juntos cooperando para se apropriar do que der e, muito importante, salvar-se antecipadamente das possíveis consequências da destruição do país: genocídio indígena, colapso ambiental, das instituições, do tecido social, da saúde da população (pela desastrosa gestão da pandemia), da cultura e da educação.
Mas a vacina contra o processo que, espera-se, atingirá os culpados do saque, já existe e chama-se imunidade parlamentar. Todos os saqueadores tentam se reeleger, ou se eleger pela primeira vez, para perpetuar a impunidade. E o dinheiro para isso vem da PEC do Calote. O presidente, depois da aparente calma que se seguiu ao falido golpe de 7 de Setembro, continua em campanha eleitoral antecipada com dinheiro público e nos últimos dias voltou a atacar juízes da suprema corte, a fazer ameaças golpistas, a falar contra a vacina e o passaporte vacinal. Manifestações e cerimônias que se seguiram à nomeação do juiz terrivelmente evangélico vexaram o país.
Tristíssimo Brasil.
Dezembro 2021
Maristela Jardim Gaudio