Agrotóxicos perigosos e ilegais continuam sendo descobertos nas estradas do Brasil. Caminhões que transportam agrotóxicos ou fertilizantes são descobertos em fiscalizações rotineiras da Polícia Rodoviária Federal, como informa o Eco, em matéria de 16 de Setembro deste ano. A matéria cita uma pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Economico e Social de Fronteiras, que aponta que o mercado ilegal de agrotóxicos já representa 25% dos produtos comercializados no pais. Roubo, falsificação, desvio da finalidade de uso e contrabando estão na base do uso de produtos proibidos nas lavouras do país.
Não só nas estradas são apreendidos produtos proibidos, ou vencidos, ou contrabandeados. Em Março deste ano, A Polícia Civil e o Ministério da Agricultura descobriram 500 kg e mais de 9,4 mil litros de produtos vencidos e/ou proibidos, escondidos no armazém de uma cooperativa em Mato Grosso.
1629 NOVOS AGROTÓXICOS NO GOVERNO BOLSONARO
A liberação de agrotóxicos durante o governo Bolsonaro, até Março deste ano, ou seja, em pouco mais de 1.150 dias de governo, bateu recordes: foram liberadas 1629 substâncias. Impressiona pensar que apesar desse grande número, ainda existam outros venenos sendo usados na nossa comida. 44% dos 475 agrotóxicos registrados no Brasil, só em 2019, foram banidos nos países europeus e nos Estados Unidos, segundo um relatório do Greenpeace.
Grande número deles é comprovadamente danoso para a nossa saúde.
O governo Bolsonaro, tenta mudar as normas para a liberação de produtos usados na agricultura. A Câmara dos Deputados aprovou em Fevereiro de 2022 projeto de lei que centraliza no Ministério da Agricultura as tarefas de fiscalização e análise de agrotóxicos para uso agropecuário; e prevê a concessão de registro temporário se o prazo não for cumprido.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem assim o seu papel de controle diminuído. Ficou muito mais fácil aprovar a liberação de mais agrotóxicos.
Foto: Carta Campinas
AGRO – TÓXICOS
Os agrotóxicos (a toxicidade já está no nome), intoxicam não só os homens mas também os animais – veja caso das onças mortas no Pantanal. Abusar de fertilizantes e pesticidas, também significa eliminar abelhas e minhocas, essenciais para uma agricultura saudável e sustentável. Mas isso ainda não é tudo. Os agrotóxicos passam também para os lençóis freáticos alterando a água – e a saúde de animais aquáticos, dos que bebem em lagoas e rios e dos que se alimentam de animais aquáticos. Pensando em atenuar a visão negativa que a população, justamente, tem sobre os agrotóxicos, o setor produtivo tenta, por meio do projeto de lei 6299/2002, o já famoso PL do veneno, mudar o nome oficial de “agrotóxico” para “pesticida”.
Uma grande parte das substâncias nocivas é usada nas culturas de milho e soja, produtos usados para nutrir animais criados para a alimentação humana, no Brasil e em outras partes do mundo. A nossa soja, por exemplo, alimenta porcos na China.
Globo – Reprodução/Redes Sociais
AGROTÓXICOS COMO ARMA
Recentemente, agrotóxicos têm sido usados como arma sobre crianças e comunidades indígenas e ribeirinhas, em disputa sobre terras. Moradores de comunidades rurais no Maranhão e Pará gravaram o momento em que os aviões jogam pesticidas sobre suas casas em áreas disputadas com grandes fazendeiros. “Vítimas colaterais” são os animais envenenados.
Imagem: Cora.bom.br
LUCRO ACIMA DE TUDO
O uso da terra no Brasil não leva em consideração nem a saúde da população, nem a saúde do planeta, do qual somos parte. A finalidade do uso da terra nas culturas intensivas é uma só: o lucro. O lucro, não importa como. Não importa com que trágicas consequências, não importa nem mesmo que, a médio e longo prazo, esse sistema vai contra si mesmo. Tudo está interligado neste nosso sistema Terra. Exemplo clássico: desmatar a Amazônia quer dizer acabar com a chuva no resto do país.
E o que fazer? Além de eleger só os políticos que se preocupam com a questão climática, com o uso da terra, com a justiça social e com a saúde da população, podemos também procurar alimentos orgânicos e suspender ou reduzir o consumo de carne (boa parte do desmatamento do país é feito em função da pecuária).
Maristela Jardim Gaudio