Carro Elétrico

Vivemos todo o século XX vinculados ao carro, que participou intimamente da nossa vida diária como meio de transporte, status social e item imprescindível, pois ter um carro e comprar uma casa própria era o que mais se almejava. Porém o valor simbólico do carro vem decaindo entre os jovens, hoje bem mais interessados nos smartphones – que não os levam a algum lugar, mas abrem conexão com o mundo – e nos games.

Diariamente observam-se os graves índices de poluição do ar nas cidades e as decorrências danosas causadas ao meio ambiente, sendo que muitas mortes prematuras são provocadas por este fenômeno, principalmente na China. Grande parte da poluição é devida ao intenso uso de veículos movidos a gasolina e diesel, e o transporte é responsável por um quarto das emissões de dióxido de carbono, sendo que deste montante dois terços decorrem de veículos de rodagem, apesar de estar aumentando o ônus dos setores aéreo e marítimo. Sabe-se que 93% da energia utilizada nos transportes derivam de produtos do petróleo.

Hoje há uma constatação de que o carro comum é uma forma de transporte cara e pouco eficiente, estimulando-se os serviços de compartilhamento de automóveis, aplicativos de uso coletivo e a utilização de bicicletas, o que possibilitaria um novo estudo das áreas urbanas, melhorando as condições ambientais. Os veículos elétricos, dependendo da forma de obtenção da eletricidade usada para abastecê-los, geram uma emissão bem menor de dióxido de carbono do que os carros a gasolina e diesel. Caso a fonte seja a energia solar ou eólica, a emissão é zero; porém, se for usado o carvão, aumenta drasticamente. Um carro a combustão emite 150 gramas de CO2 por km rodado, enquanto um carro elétrico, 3,5 gramas.  

No início dos anos 1.900, os carros elétricos eram populares nos Estados Unidos, em maior número do que os movidos a gasolina, com o empenho de Thomas Edison e Henry Ford em desenvolver um veículo elétrico acessível à população. Porém, com a descoberta de petróleo no Texas e a produção de unidades em série, o preço dos carros a gasolina baixou; a construção de estradas que levavam os motoristas a percorrer maiores distâncias fez com que os carros a gasolina dominassem totalmente a produção industrial, pois os elétricos tinham autonomia de 60 km e infraestrutura de carga limitada, sendo assim inconvenientes para viagens mais longas.

Apenas em 1.997 os veículos elétricos reapareceram, sendo o Toyota Prius o primeiro veículo elétrico híbrido produzido em série. Em 2.006 a nova fabricante automotiva Tesla Motors criou o Tesla Roadster, um carro esporte de luxo, e em 2.011 a Nissan introduziu o Leaf, considerado como carro de família ecológico de preço popular.

 A Tesla, empresa californiana sediada no Vale do Silício e criada em 2.003, é a líder na venda de carros elétricos, tendo entregado 936.000 unidades em 2.021, quase o dobro do ano anterior. Os projetos de carros elétricos estão sendo desenvolvidos com maior intensidade desde 2.017 pelos Estados Unidos (Ford e GM), Europa (Volkswagen e BMW) e Ásia (Nissan e Hyundai), entre outras montadoras.

Desde 2014 há uma modalidade de competição que se chama Fórmula E, organizada pela Federação Internacional de Automobilismo, da qual participam carros monopostos (veículo de competição em que só cabe o piloto) exclusivamente elétricos.

Em 2010 apenas alguns milhares de veículos elétricos circulavam pelo mundo, em 2016 eram dois milhões e no início de 2.022 estimava-se em 16 milhões. Segundo estudo da Global Eletric Vehicle Outlook, a quantidade de carros, vans, ônibus e caminhões elétricos será de 145 milhões em 2.030, correspondendo a 10% do total. A China é o maior mercado, onde foram vendidos mais veículos elétricos em 2.021 do que em todo o mundo em 2.020. Na América Latina, a Costa Rica pretende ser a líder dessa transição, onde o governo planejou reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e, para tanto, desde 2.016 vem incentivando a compra de carros elétricos.

A Noruega é considerada líder mundial na transição para tecnologias limpas, onde 80% dos carros vendidos em 2.021 já eram elétricos, pretendendo substituir totalmente os carros a gasolina até 2.025. O governo norueguês ofereceu redução e isenção de tarifas e taxas de aquisição, passagem livre em pedágios, permissão de usar faixas de ônibus e táxi e, até recentemente, estacionamento e carga gratuitos por meio de serviços públicos.

A Inglaterra e a França anunciaram planos para banir a venda de novos carros a gasolina e a diesel até 2.040, enquanto vários estados americanos – como Califórnia, Massachusetts e New Jersey – vão aderir à proibição a partir de 2.035.

A venda de carros elétricos deve superar a dos veículos de combustão interna antes de 2.040, segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF), devido à queda dos custos, ao avanço da tecnologia das baterias e ao desenvolvimento da infraestrutura de carga.

Há vários benefícios em se optar por um carro elétrico, como sua maior eficiência energética, ser mais silencioso, não soltar fumaça e possibilitar maior economia nos postos de abastecimento, além de apresentar design simples e contemporâneo e necessitar de menos manutenção. A tração é feita apenas pelo motor elétrico, enquanto os carros a gasolina e diesel têm muitas peças no sistema motor/câmbio, pedem trocas constantes de óleo e de filtros e necessitam reparos no sistema de exaustão. Hoje o que impede sua maior expansão é o alto custo, além da demora para recarga e a escassez de pontos de abastecimento.

Aumentos de infraestrutura de carga e opções de carga-rápida estão sendo desenvolvidos. Variando conforme o tamanho da bateria e a velocidade do ponto de carga, o carregamento é feito entre 30 minutos e 12 horas. A Tesla desenvolveu uma rede de supercarga que pode abastecer uma bateria em uma hora, sendo a meta reduzir este tempo para cinco minutos. Há construtoras em São Paulo que já oferecem vagas de garagem com ponto de recarga para carro elétrico.

A bateria é o componente mais importante de um carro elétrico. Três cientistas iniciaram os estudos sobre as baterias de íons de lítio na década de 1970, época da primeira grande crise do petróleo, o que resultou no Nobel de Química de 2019. Durante a entrega do prêmio, os cientistas afirmaram que a reciclagem é fundamental para popularizar os veículos elétricos.

O maior custo de um carro elétrico é a bateria de lítio, que representa 40% do valor total. Este tipo de bateria é também usado em celulares, notebooks e tablets, porém a de um carro necessita de 100 mil vezes mais energia que a de um celular. Como a produção dessas baterias tende a crescer rapidamente, a demanda por metais que as compõem aumentará muito, como é o caso do lítio e do cobalto, cujas reservas estão em poucos países (50% do cobalto na República Dominicana do Congo e 75% do lítio na Bolívia, Chile e Argentina).

Estima-se que 1,2 milhão de baterias de lítio sejam descartadas até 2.030, o que exige um grande incentivo global para planejar a reciclagem, caso contrário haverá bastante comprometimento na proposta de sustentabilidade dos carros elétricos, principalmente porque não há um consenso entre as montadoras para utilizar um padrão de bateria, sendo que as diferentes composições químicas produzidas pelos fabricantes dificultam a reciclagem e este processo é bem mais fácil em equipamentos menores.

A China, por exemplo, exige que as empresas produtoras das baterias sejam responsáveis pela sua reciclagem. Apesar de os preços das baterias tenderem a cair com a produção em larga escala, estima-se que esta redução não acontecerá com seu sistema de refrigeração.

A extinção dos veículos a combustão vai determinar o fim das fábricas que fornecem motores a gasolina, radiadores, câmbios, velas e injeção eletrônica, enquanto a indústria de veículos elétricos gerará empregos na manufatura de baterias, na infraestrutura de carga e em futuras tecnologias automotivas.

Um estudo do Der Spiegel (“O Espelho”, revista semanal alemã)  aponta que a substituição dos carros convencionais cortará aproximadamente 40% dos custos de manufatura dos seus componentes, gerando bastante desemprego; vários elementos essenciais dos veículos elétricos, como as células das baterias, serão adquiridos de fornecedores e não vão ser feitas pelos fabricantes de carros, além de os veículos elétricos requererem  menos cuidados na área de reparos e serviços, o que significa menos postos de trabalho. Construir um carro elétrico é bem mais simples do que um carro a combustão; enquanto o elétrico é feito de 11.000 peças, um modelo convencional utiliza 30.000.

Fontes

Este texto foi principalmente baseado em artigos do Dossiê sobre Veículos Elétricos, presente no site Climainfo                                                                                                                 

Fotografia: creative commons.

                                                                                                                Roberto Cenni