Povo Sioux luta contra oleoduto nos Estados Unidos

Mais um artigo sobre a luta entre os Sioux e as corporações do petróleo, publicado pelo IELA, da Universidade Federal de Santa Catarina, e repercutido por Crisálida. A luta dos Sioux e dos ambientalistas é mais uma demonstração de que a retórica de Barack Obama sobre a necessidade de descarbonizar a economia não traduz uma política efetiva de contenção das emissões de GEE. 

Mesmo no que se refere ao carvão, o mais poluente e mais emissor de GEE dos combustíveis fósseis, a política de Obama é contraditória, pois se, de um lado, seu Clean Power Plan declara “guerra ao carvão”, de outro, o Bureau of Land Management (pertencente ao Department of Interior cuja função, entre outras, é a execução das políticas energéticas) acaba de reabrir suas concessões (leasing) para a exploração de carvão em terras pertencentes ao Estado, como mostra um documento do Greenpeace:

“O Bureau of Land Management (BLM) realizou durante a administração Obama concessões para a exploração de 2,2 bilhões de toneladas de carvão pertencentes ao Estado, liberando assim 3,9 bilhões de toneladas de poluição por esse combustível. Isso equivale às emissões anuais de mais de 825 milhões de veículos de passageiros e é mais que os 3,7 bilhões de toneladas emitidas por toda a União Europeia em 2012. (…) O programa federal de concessões redunda num subsídio maior para os combustíveis fósseis, favorecendo o carvão em detrimento de métodos mais limpos de geração de eletricidade. (…) O programa federal de concessões é a fonte de 40% de toda a extração de carvão nos EUA, com impactos maiores nos mercados de carvão e na poluição por carvão. Um departamento do BLM em Wyoming recentemente propôs um plano de novas concessões para a exploração de carvão que montam a 10,2 bilhões de toneladas, o que liberaria 16,9 bilhões de toneladas de poluição por carvão”.

Ora, em 29 de maio de 2015, a administração Obama autorizou efetivamente a concessão para exploração dessas 10,2 bilhões de toneladas de carvão a serem extraídos da Wyoming Powder River Basin, a maior mina de carvão do país (Cf. Brian Merchant, “The 10 Billion Tons of Coal that Coud Erase Obama’s Progress on Climate Change”.  Motherboard, 29/V/2015 (em rede) e “Leasing Coal, Fuelling Climate Change. How the Federal Coal Leasing Program undermines President Obama’s Climate Plan”).

(Luiz Marques)

O Missouri é o maior rio da América do Norte. Durante milhares de anos tem abastecido os habitantes originários da zona com a água necessária para a vida.  Até hoje, milhares de pessoas dependem do rio Missouri para garantir água potável não contaminada. Mas, atualmente, empresas estão construindo um oleoduto na região, o Dakota Access Pipeline, que ameaça a saúde do rio. Com o objetivo de impedir a construção do oleoduto nasceu um movimento encabeçado pelos povos originários que tem vivido na margem do rio Missouri desde tempos imemoriais.

Integrantes dos povos Dakota e Lakota da Reserva Sioux de Standing Rock instalaram um acampamento na confluência dos rios Missouri e Cannonball, a uns  80 quilômetros ao sul de Bismarck, em Dakota do Norte. Eles se dizem os “protetores” e não manifestantes. No sábado passado, quando tentavam frear o trabalho de enormes escavadoras dentro de um cemitério ancestral, os guardas de segurança do oleoduto atacaram os protetores – em sua maioria nativos – com cachorros e gás de pimenta. Os povos originários estavam em resistência contra a construção desse oleoduto de 3,8 bilhões de dólares, porque querem garantir a água pura, proteger suas terras sagradas e por fim a economia baseada em combustíveis fósseis.

Os Sioux de Standing Rock instalaram o primeiro acampamento de resistência ainda no mês de abril e o chamaram de “Pedra Sagrada”. Nesse momento existem quatro acampamentos com mais de mil pessoas acampadas, com povos originários dos Estados Unidos e do Canadá.  “Água é vida” é a palavra de ordem dessa luta pacífica contra o oleoduto que se constrói para o transporte de óleo cru desde os campos petrolíferos de Bakken, de Dakota do Norte até Illinois.

O sábado passado foi um lindo dia de sol. Junto a Laura Gottesdiener e John Hamilton, do “Democracy Now!”, passamos a manhã filmando entrevistas. Na parte da tarde, várias delegações realizaram uma marcha desde o acampamento até o lugar onde se projeta que passará o oleoduto, com o objetivo de colocar ali as bandeiras das respectivas comunidades. Ao chegar, viram-se surpreendidos pelas enormes escavadoras que realizavam movimentos de terra, inclusive durante o longo final de semana do Dia do Trabalhador.

Centenas de pessoas, em sua maioria nativos americanos, se congregaram na entrada do prédio, pedindo, aos gritos, que parassem com a destruição. Um grupo de mulheres começou a agitar a cerca da propriedade, que caiu sem muito esforço. Os protetores da terra começaram a inundar o lugar. Vários homens jovens chegaram do acampamento a cavalo.

As escavadoras se retiraram, mas os guardas de segurança tentaram deter os protetores soltando pelo menos seis cães ferozes que morderam as pessoas e os cavalos. Um dos cachorros tinha o focinho coberto de sangue. A pessoa que dirigia o cachorro incitava o bicho a avançar sobre a multidão. Os guardas ainda jogaram gás pimenta nos manifestante, os golpearam e empurraram. Cachorros como esses foram usados para atacar aos povos originários nos Estados Unidos desde os tempos de Cristóvão Colombo e os conquistadores espanhóis que o seguiram também.

Foi só depois de muita luta que os guardas do Dakota Access retrocederam.

A rama do oleoduto atravessa sítios arqueológicos, entre eles, cemitérios Lakota e Dakota. As comunidades já haviam apontado a localização desses sítios em um documento apresentado á justiça no dia anterior à manifestação, tentando deter a construção até que se pudesse investigar sobre o tema.  Com a localização desses cemitérios nas mãos, o pessoal do oleoduto Dakota Acces fez foi arrasar com eles. O chefe da tribo Sioux de Standing Rock, David Archambault, afirmou ao programa “Democracy Now!”: “Usaram os cachorros como armas mortais. Tudo foi premeditado. Sabia que alguma coisa aconteceria quando passassem sobre os 25 quilômetros de terras intactas para destruir nossos lugares sagrados. Sabiam e estavam preparados. Contrataram uma Companhia de segurança com cães de guarda e esperaram. E aconteceu. Quando vimos o que se passava já era tarde demais. Tinham destruído tudo. Profanaram nossas tumbas ancestrais. Simplesmente destruíram nosso lugar de oração”.

No acampamento entrevistamos a Winona LaDuke, uma líder Ojibwe da naçãoWhite Earth do norte de Minnesota. Ela recentemente liderou uma campanha que teve êxito na hora de impedir a construção de outro oleoduto que ameaçava o território do povo White Earth. LaDuke fez comentários acerca do apoio do governador de Dakota do Norte, Jack Dalrymple, à repressão contra os manifestantes em Standing Rock: “Você não é George Wallace e isso não é o Alabama. Estamos no ano de 2016 e não tratarão os indígenas como o fizeram há cem anos. Estamos fartos”.

A batalha contra o oleoduto Dakota Access segue com uma renovada afirmação dos direitos e da soberania dos povos originários, como uma luta para proteger a água, mas , sobretudo, como parte de uma luta mundial contra a mudança climática e para romper com nossa dependência dos combustíveis fósseis. Em Pedra Sagrada, Guerrero Rojo e outros acampamentos instalados na confluência dos rios Missourie e Cannonball, os protetores chegaram para ficar e são cada dia mais.

Tradução: Elaine Tavares

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