Com a pandemia da COVID-19 e o ataque da Rússia contra a Ucrânia, o tema da alimentação foi colocado no centro da história novamente.
A falta de alimentos causada pela guerra causou um aumento nos seus custos. Assim como a dependência do petróleo e do gás russos e os impactos climáticos dramáticos resultantes desta dependência de combustíveis fósseis.
A relevância do sistema alimentar nos debates globais
Felizmente, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, mais comumente chamada de COP26, abriu-se espaço para discussão da questão do uso da terra, dos sistemas alimentares e da saúde.
Foi a primeira COP a atribuir mais destaque para esta questão. As COPs anteriores foram muito mais focadas na adaptação das reduções de emissões, mas não ampliavam a compreensão de que, de fato, os cortes de emissões eram centrais para o sistema alimentar e que afetariam nossa saúde. Portanto, tanto a comida é fundamental em nossas vidas, como também na abordagem das mudanças climáticas.
Mais do que antes, mostrou-se uma preocupação e um compromisso de reverter o desmatamento ao longo de toda a cadeia de valor, o que poderá ter um impacto positivo nos sistemas alimentares e, especialmente, na qualidade desses sistemas. A comida é uma parte fundamental da nossa pegada de carbono.
Alguns governos das Américas do Sul e Central, como o Brasil, assinaram acordos para uma agricultura mais sustentável. Ao mesmo tempo, instituições financeiras anunciaram investimentos em programas na mesma área, e quase cem grandes empresas se comprometeram também.
Apesar destas promessas terem sido muito bem recebidas, é necessário prestar atenção como os maiores emissores do mundo estão se comprometendo e quais são suas ações para reduzir as emissões e elevar os estoques de carbono no setor de alimentos e de uso da terra.
O relatório de 2022 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido por IPCC (sigla em inglês), também trouxe pontos particulares sobre alimentação.
O documento mostra que a extensão e magnitude dos impactos das mudanças climáticas são maiores do que havia sido estimado anteriormente. Ele destaca que estão causando perturbações graves e generalizadas na natureza e na sociedade. Como, por exemplo, na redução da capacidade de cultivar alimentos nutritivos ou fornecer água potável suficiente, o que afeta a saúde e o bem-estar das pessoas e prejudica os meios de subsistência.
Segundo o IPCC 2022, as pessoas que vivem nas cidades enfrentam maiores riscos de estresse térmico, redução da qualidade do ar devido a incêndios florestais, falta de água, escassez de alimentos e outros impactos causados pelas mudanças climáticas e seu efeito nas cadeias de suprimentos, redes de transporte e outras infraestruturas. A mudança climática está ligada ao rápido aumento dos preços dos alimentos também.
A interdependência planetária
O relatório do IPPC de 2022 focou nas soluções. É nesse documento que enfatiza-se que as relações interdependentes entre clima, natureza e pessoas são fundamentais para alcançar um planeta saudável para garantir um futuro habitável para as pessoas na Terra.
A partir das declarações da cúpula climática da ONU de 2021, assim como do relatório do IPCC de 2022, começa-se a vislumbrar o entendimento de que tudo está interligado nesta e em outras tantas questões. Para os que pensam globalmente, a comida, portanto, é também foco central da mudança climática.
Vamos acompanhar.
Fontes (em inglês):
- IPCC, 2022: Climate Change 2022: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [H.-O. Pörtner, D.C. Roberts, M. Tignor, E.S. Poloczanska, K. Mintenbeck, A. Alegría, M. Craig, S. Langsdorf, S. Löschke, V. Möller, A. Okem, B. Rama (eds.)]. Cambridge University Press. In Press.
- Para ler o Relatório do IPCC, clique aqui.
- Para ler as respostas às perguntas mais frequentes sobre o Relatório do IPCC, clique aqui.
- United Nations Climate Change Conference UK 2021 (COP26)
- Global Optimism
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