Educação Ambiental e os desafios do desenvolvimento

A nossa realidade ambiental atual nos desafia, nos angustia e exige escolhas. Ela é tão complexa quanto incerta. Se quisermos trazer o nosso foco de reflexão para as questões ambientais não conseguiremos fazê-lo sem atravessar os caminhos da ecologia, da economia, da política, da cultura e outros mais. Certamente surgirá a disputa entre a argumentação sobre a necessidade de mudanças nas relações entre sociedade e natureza e a necessidade de desenvolvimento.
Aquilo a que comumente chamamos de realidade brasileira, na verdade, constitui-se de uma multiplicidade de realidades, que compartilham esferas espaço-temporais. Essas realidades podem apresentar um grande enraizamento em tradições originais ou estarem mais alinhadas com o modo de viver globalizado dos grandes centros urbanos mundiais, mas, em geral, revelam miscigenações e hibridismos culturais, que transitam entre a tradição, a modernidade e a pós-modernidade.
Diante de um quadro tão diverso, faz-se necessária uma abordagem que inclua essa multiplicidade, encarada aqui como complexa, não apenas pelo seu pluralismo, mas também pelas incertezas que se entrelaçam, principalmente diante dos desafios do desenvolvimento, formando um emaranhado de sonhos individuais e coletivos, incertezas e realizações.
A partir do pensamento complexo e da perspectiva da ética complexa, podemos realizar uma aproximação às contradições que permeiam as questões socioambientais brasileiras, atravessando seus vários níveis de realidade e propondo a religação necessária entre sociedade e natureza, tendo como caminho a Educação Ambiental.

O ideário desenvolvimentista e seus desafios
Ao termo desenvolvimento são atribuídos sentidos provenientes de áreas como biologia, psicologia, saúde e economia. Em geral, lhe são emprestados aspectos positivos, relativos à progressão, ao amadurecimento e à conquista de condições favoráveis.
Por possuir abrangência tão vasta, o termo desenvolvimento é, em geral, acompanhado de adjetivos que especificam o foco em questão. Assim temos ‘desenvolvimento físico’, ‘desenvolvimento infantil’, ‘desenvolvimento econômico’. Entretanto, por mais que se tente delimitar alguns aspectos, o termo desenvolvimento remete a um conjunto de transformações. Dessa forma, quando se fala em desenvolvimento econômico, aí está embutida a associação a melhorias em vários setores, que ultrapassam a economia.
A ideia estabelecida do conceito de desenvolvimento econômico como um aspecto essencialmente positivo fez e faz com que ele seja apresentado como justificativa para inúmeras ações previstas em políticas públicas e privadas, pelo mudo afora. Mas, se esta ideia parece ser consensual, qual é o problema então em se almejar o desenvolvimento econômico, tanto individual, quanto coletivo?
Parece que o problema não está localizado no conceito em si, mas na visão unidimensional da realidade. Se pudermos incluir a perspectiva da complexidade, perceberemos as relações subjacentes à ideia de desenvolvimento econômico e constataremos que ela é uma das contradições socioambientais mais prementes da atualidade.
A ideia de desenvolvimento permeia o paradigma da modernidade e, associada ao conceito de progresso e de novo, investe-se da perspectiva de algo melhor a ser almejado. Aqui, as várias modalidades de desenvolvimento parecem se interpenetrar: desenvolvimento científico, embasando o desenvolvimento econômico, impulsionando, por sua vez, o desenvolvimento das garantias sociais.
Entretanto, o que observamos na nossa realidade vai muito além dessa perspectiva totalmente positiva, que Leroy (2002) considera como um engodo, apoiado em duas ilusões básicas: a de um caminho único a ser trilhado e a de que existam no planeta condições ecológicas para que todos “cheguem lá”. Nesse caso, o “lá”, onde se almeja chegar, configura-se como o modelo dos países classificados como desenvolvidos. Assim, disseminou-se pelos quatro cantos do planeta, pelo processo de globalização, um modelo hegemônico idealizado de desenvolvimento, para o qual e pelo qual correm, disputam e se digladiam as nações.
Edgar Morin (2003) alerta para os dois aspectos do desenvolvimento: o mito global de bem-estar e uma concepção reducionista, focada apenas no crescimento econômico e ignorando os problemas humanos de identidade, da comunidade, da solidariedade e da cultura.
Paradoxalmente, no contexto mundial e brasileiro emerge também a cultura contra hegemônica, que busca, segundo Leroy (2002), a criação de caminhos alternativos de mudança social, contrapondo-se à: concentração de renda e desigualdade social; degradação ambiental e social; dívida externa e subordinação aos credores internacionais; divisão internacional da produção; erosão da democracia e mercantilização da política.
Além das reflexões sobre o desenvolvimento, um outro ponto relevante, apontado por Morin (2005a) é o da subjugação não somente dos vegetais e animais, mas também dos territórios naturais aos padrões de organização humanos.
Esse aspecto de subjugação permeou a trajetória histórica da colonização no mundo e possibilitou às metrópoles europeias o impulso à modernidade. Podendo contar com fontes aparentemente inesgotáveis de metais, outras matérias-primas e força de trabalho, ornadas em ouro e prata, as metrópoles prosperaram, sustentadas pelo suor escravo dos povos indígenas e africanos.
Ao mesmo tempo em que riquezas naturais eram suprimidas das colônias americanas, era-lhes imposta a cultura das metrópoles europeias, apresentada como mais elaborada e evoluída. Gradativamente, foi havendo a supressão de línguas nativas, de práticas de cura, de formas de pensar, de se organizar, de manifestações artísticas, de alimentos originais, aliada à substituição por um modo de ser e de viver considerado como mais desenvolvido e desejado.
Assim, a história das colônias pelo mundo é uma história de dominação, mas é também uma história de resistência e de conquistas anti-hegemônicas, vividas nos períodos de luta pela independência, pela libertação dos povos escravizados, pela consolidação de identidades nacionais, pelo fim dos regimes ditatoriais, pelos avanços nos direitos à cidadania e pela melhoria da qualidade de vida.
A crescente industrialização e urbanização das potências econômicas mundiais e a sua posterior expansão e implantação em países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento se apoiou no já comentado ideário de progresso, mas não pôde evitar que fortes contradições viessem a emergir desse processo. As consequências da exploração sem critérios dos bens naturais e das classes sociais envolvidas com a produção crescente de bens materiais começaram a eclodir, de forma inevitável, de dentro do próprio processo, por meio de lutas sociais e alertas ambientais.
Sob o olhar complexo, percebe-se o movimento recursivo do desenvolvimento econômico mundial: ele gera crescimento, produz bens materiais, carrega promessas de conforto e emancipação, mas gera também exploração, dependência, abismos entre classes e graves impactos socioambientais, que parecem exigir que surjam soluções advindas novamente do movimento desenvolvimentista, isto é, para resolver o inchaço dos centros urbanos, novos equipamentos e serviços precisam ser criados e implantados, formas de locomoção precisam ser mais eficientes, exigências previdenciárias precisam ser atendidas para garantir, por exemplo, a cura de doenças muitas vezes causadas pelo próprio modo de vida opressor.

Meio ambiente e desenvolvimento
Em relação às questões ambientais, no cerne da expansão desenvolvimentista, mais fortemente a partir da década de 1970, paradoxalmente, teve início a formação do embrião da retração, por meio de pontos de convergência mundial para o fato de que algumas questões precisariam ser discutidas por todos, pois já extrapolavam as fronteiras nacionais, como nas situações envolvendo desastres ecológicos.
Grandes conferências mundiais sobre o meio ambiente, como a realizada em Estocolmo, em 1972 e em Belgrado, em 1975, inauguraram a preocupação planetária. Nelas foram firmados acordos e compromissos que se refletiriam na estruturação política e na formulação das legislações ambientais nacionais, como as verificadas no Brasil, principalmente nas décadas de 1980 e 1990.
O enfoque dado às questões ambientais centrou-se, a princípio em uma abordagem ecológica, focada na compreensão e manutenção dos processos naturais. A emergência da ecologia e a preocupação com as questões ambientais começaram a inverter o sentido da subjugação, isto é, ao invés de buscarem impor a lógica humana à natureza, propunham trazer a dinâmica da natureza para a centralidade das discussões humanas. Para Morin (2005a; p.106): “O pensamento ecologizado é a introdução do olhar ecológico na descrição e na explicação de tudo aquilo que vive, incluindo a sociedade, o homem, o espírito, as ideias, o conhecimento.”
O momento inicial do movimento ambientalista, mais centrado nas questões conservacionistas, foi sendo contagiado pelo social. O antagonismo que polarizou o movimento ambiental x o movimento social começou então a se enfraquecer sob a perspectiva de que as lutas pela cidadania poderiam também direcionar-se às questões ambientais, já que estariam diretamente vinculadas à qualidade de vida das sociedades.
Gradativamente as práticas das forças propulsoras do desenvolvimento econômico vão se alinhando às exigências de órgãos reguladores e fiscalizadores, que são, em sua maioria, amparadas por uma legislação revisada e mais restritiva às atividades com potencial de geração de impactos ambientais.
Além disso, os discursos também se adéquam às expectativas dos novos consumidores, mais exigentes e identificados com as causas ambientais. Não se pode negar a importância do desenvolvimento de tecnologias nas mais diversas áreas e, em particular, daquelas que visam à redução dos impactos ambientais. Seja por meio do aprimoramento do setor produtivo, no controle de emissões, seja no percurso dos produtos ao longo da cadeia produtiva, no seu transporte ou na previsão de destinação e reaproveitamento de resíduos. Também há um movimento crescente de revisão das matrizes energéticas, com a fixação de metas de substituição do uso de combustíveis fósseis por fontes de energia mais “limpas” e renováveis. Todo esse esforço mundial tem apresentado avanços e retrocessos, principalmente nos compromissos firmados a partir de estudos científicos sobre as mudanças climáticas, como os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), da ONU, encontrando resistências por parte dos governos direcionados pela lógica da continuidade de crescimento e do aumento dos níveis de consumo, mesmo que isso não represente necessariamente a justiça e a equidade socioambientais.
Paralelamente aos avanços da via tecnológica, é necessário que aconteçam também avanços na via das relações sociais de poder, com o estabelecimento de metas também para o fortalecimento dos espaços democráticos de participação, em nível local, regional, nacional e global, seja por meio de conselhos, comissões, fóruns, redes, em que as partes interessadas possam ser representadas de forma paritária.
Nesses espaços de confronto e diálogo, a diversidade de saberes, provenientes de diversas áreas do conhecimento e a vontade popular também precisam ser considerados. Não se trata da busca pelo eterno consenso, mas o respeito por diferentes perspectivas que, em geral, refletem diferentes níveis de realidade e diferentes níveis de percepção dos sujeitos envolvidos.

Afinal, queremos ou não o desenvolvimento?
Apesar dos resultados positivos verificados com a implantação de medidas restritivas às atividades impactantes ao meio ambiente, o ideário do desenvolvimento não mudou. Em geral, as pessoas continuam sonhando em “chegar lá”, em poder adquirir de forma crescente, bens materiais que lhes garantam conforto, segurança, mobilidade, facilidades de comunicação e lazer. O desenvolvimento aparece agora como tentando se mostrar como “sustentável”, apesar de ser facilmente verificável que o seu ritmo, nos moldes das grandes potências econômicas, é claramente insustentável.
Em trabalhos anteriores (Lacerda, 2007; 2010) aponto o fato de que o agravamento de impactos ambientais apresenta uma paradoxal igualdade na desigualdade. Igualdade, pois seus efeitos, muitas vezes, não respeitam fronteiras geográficas e sociais, como se observa nos grandes desastres ecológicos e nas disputas envolvendo o uso da água de rios que percorrem diferentes países e desigualdade em virtude da forma diferenciada como os impactos afetam os diferentes grupos sociais. Em geral, os efeitos cotidianos da crise ambiental atingem, de forma mais intensa, as populações mais carentes, que vivem em condições precárias em relação ao saneamento básico, à exposição a poluentes, ao contato com agrotóxicos, à dificuldade de acesso à água potável, entre outros, configurando o quadro do desumano e da negação às condições básicas de cidadania, que precisa ser considerado pela Educação Ambiental. Além disso, o impacto gerado pelos seres humanos também é comprovadamente diferenciado, apresentando uma relação entre o nível de desenvolvimento e o acesso aos bens de consumo, podendo determinados indivíduos de sociedades industrializadas gerarem dezenas de vezes mais resíduos e outros impactos ao ambiente do que aqueles provenientes de sociedades menos industrializadas.
Um aspecto relevante para a Educação Ambiental é o da observação de como os discursos em prol de um desenvolvimento sustentável são facilmente assumidos pelo mercado e pela lógica dominante. Nesse sentido, Leroy (2002; p.112) considera que “[…] ao tomarem para si o desenvolvimento sustentável, o mercado e o pensamento economista dominante buscam obscurecer a existência de uma dinâmica social que combina apropriação privada do mundo material e aprofundamento das desigualdades.” O autor destaca ainda que “O que existe no mundo é uma enorme iniquidade (uma perversidade) na apropriação dos recursos e da energia retirados da natureza. Uma minoria de cerca de 20% da humanidade consome cerca de 80% desses recursos, produzindo ao mesmo tempo cerca de 80% da poluição e da degradação ambiental que ameaçam o planeta como um todo[…]”.
Em relação à alimentação, por exemplo, o modelo de desenvolvimento dominante contribui para que ocorra a perda dos referenciais ancestrais de como cultivar e obter alimentos e a subsequente dependência de sementes e produtos industrializados e, muitas vezes, geneticamente modificados. Os resultados desiguais aqui são a facilidade de acesso a esses produtos e aumento dos índices de obesos nas sociedades mais industrializadas e a dependência de ajuda humanitária, entre as nações mais pobres. O mesmo é observado em relação à perda da sabedoria no uso de plantas medicinais e a dependência crescente dos sistemas de saúde e dos medicamentos industrializados, com sua produção e comercialização protegida por patentes, encarecendo o seu preço final à população.
Entretanto há também uma aparente preocupação ambiental generalizada. Permeada fortemente por aspectos do imaginário que associam o meio ambiente apenas à natureza é quase unânime a importância da conservação de áreas verdes, a urgência na diminuição dos desmatamentos, a necessidade de proteção dos rios, mares e todas as espécies vegetais e animais sob ameaça. Apesar disso, mais uma vez, paradoxalmente, há um afastamento e quase um estranhamento em relação à natureza e um crescente fascínio pela concentração da população em grandes centros urbanos e por áreas comerciais construídas, em geral, de forma desvinculada à localidade, para abrigar todo o tipo de sonho de consumo de bens, serviços e entretenimento, com garantias de conforto e segurança.
Diante desse contexto, em que parece haver total falta de conexão entre as causas e as consequências, em que não se faz a relação entre um sonho de consumo e o seu impacto ambiental, em que se continua acreditando em um planeta dotado de uma infinita paciência para os caprichos de uns e uma infinita tolerância para a miséria de outros, faz-se necessário e urgente um movimento de religação ética.

Ética e desenvolvimento
Estamos diante de um impasse. Ou bem nos rendemos aos apelos atraentes das novas tecnologias do conforto ou bem aderimos às causas socioambientais e passamos a pensar um pouco naqueles que, além de não terem acesso a essas ‘modernidades’ estão sendo vítimas dos maiores impactos socioambientais. Dentro de uma lógica clássica, precisaríamos realmente optar, pois uma opção exclui a outra, possui sua própria identidade e bases teóricas que as sustentam. Uma é regida pelo princípio da infinita capacidade humana de se superar em termos de domínio dos elementos, criatividade, inovação, fascínio, comunicação e a outra é regida pelo princípio do bem comum, da atenção ao outro, da busca por justiça, do altruísmo. Entretanto, olhando à nossa volta, vemos que a realidade não está tão facilmente delimitada. Como já foi dito, a vida é mesmo uma grande confusão de desejos e já se foi o tempo em que o ‘bem’ e o ‘mal’ podiam ser mais facilmente determinados e identificados pelos grupos sociais! A ética baseada no estabelecimento do que seja o certo e o errado, o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o justo e o injusto, o melhor e o pior, cede lugar à incerteza e à constatação da necessidade da ética complexa, entendida aqui como religação em várias dimensões:

A ética é, para os indivíduos autônomos e responsáveis, a expressão do imperativo da religação. Todo ato ético, vale repetir, é, na realidade, um ato de religação, com o outro, com os seus, com a comunidade, com a humanidade e, em última instância, inserção na religação cósmica. (Morin, 2005b; p.36)

Considerar a incerteza ética, quando as dimensões éticas entram em conflito, não significa aderir ao relativismo ou ao ceticismo. Não se trata de alardear a morte dos valores, a perda da moral ou mesmo o final dos tempos, mas sim favorecer reflexões sobre como as relações nas sociedades modernas tornam-se cada vez mais complexas e atravessadas por novas possibilidades. O restabelecimento ético é possível pela busca de vias de religação entre o local e o global; entre o atendimento aos interesses individuais, coletivos e planetários; entre os saberes populares e os científicos; entre comunidades, escolas, empresas e poder governamental; entre a teoria, a prática e o imaginário.
Um cuidado a ser observado é o de que o trabalho de religação não seja envolto pela ilusão sobre resultados instantâneos, tão presente na atualidade. A religação, em todas as dimensões, é processual e muitas vezes lenta e instável, pois depende de um conjunto de fatores, que partem da vontade individual, mas vão além dela.
Como exemplos mais práticos do que está em curso nesse sentido destacam-se os fóruns sociais locais, em que são chamados ao diálogo comunidades, setores produtivos e poder governamental para o debate de situações que perpassam essas três esferas.
Fóruns de discussão sobre comércio justo e economia solidária, em que lógicas diferentes são apontadas, colocando em evidência o protagonismo comunitário, a solidariedade e em que são levantados limites, regulações e soluções para impactos socioambientais.
Comitês de Bacias Hidrográficas, com representação do Poder Público, usuários e comunidades, para a discussão e busca de soluções para as questões relacionadas à conservação, recuperação e usos dos mananciais, por meio de formulação de políticas públicas e direcionamento da gestão para o uso sustentável das águas.
Movimentos de integração entre a sabedoria popular e o conhecimento científico, na busca de melhores formas de manejo da agricultura orgânica e da utilização de plantas medicinais, com parcerias entre pesquisadores, universidades e comunidades.
Conselhos gestores de unidades de conservação, em que a comunidade e outros setores são chamados a participar dos destinos de áreas naturais.
Uso de tecnologia em comunicação virtual, como forma de mobilização social e movimentos de inclusão digital e cultural, possibilitando o acesso aos meios de produção cultural local, seja em vídeo, fotografia, música e outros.
Ressignificação da tradição, libertando-a daquilo que limita e exclui as pessoas e fortalecendo-a pelo que integra, dá visibilidade e empresta o senso de cidadania e pertencimento a um local geográfico ou virtual.
Redes sociais temáticas, em que pessoas identificadas com causas das mais diversas abrangências, como socioambientais, culturais, étnicas, de gênero, são debatidas e transformadas em ações coletivas.

Conclusão
As discussões acerca dos vários aspectos da temática do desenvolvimento revelam o seu caráter multirreferencial, trazendo à tona questões relacionadas às consequências da busca pelo crescimento econômico desenfreado e seus impactos socioambientais.
Também as formas de assimilação de uma nomenclatura ‘politicamente correta’, como a do desenvolvimento sustentável podem mascarar formas aparentemente mais aceitas de continuar com os mesmos objetivos de levar adiante um desenvolvimento insustentável ambientalmente, injusto economicamente e desigual socialmente.
A perspectiva da ética complexa contribui para o implemento de reflexões sobre a religação entre as dimensões pessoal, social e planetária, sugerindo a inserção do diálogo, do pensamento complexo e da transdisciplinaridade na superação dos desafios da atualidade.
A valorização do particular, do individual e do conhecimento tido como científico, em detrimento do comunitário, do coletivo e do conhecimento popular ou tradicional marcou a expansão do paradigma hegemônico moderno. No sentido inverso, a Educação Ambiental pode e deve fomentar novas e antigas possibilidades de espaços comunitários de aprendizagem, no sentido do fortalecimento de religações socioambientais, ou seja, através do incremento de reflexões, com os sujeitos envolvidos e suas comunidades, sobre questões relacionadas ao desenvolvimento regional, à geração de renda, à qualidade de vida, a impactos ambientais, a unidades de conservação, entre muitas outras. (Lacerda, 2010).
O debate atual sobre os rumos da Educação Ambiental, fomentado por análises sobre a sua eficácia ou não diante das mudanças em curso tem exigido o posicionamento de educadores. Nesse sentido, parece-me bastante prudente questionar não apenas o desempenho da Educação Ambiental frente a esses desafios, mas sim os modelos de desenvolvimento hegemônicos, que são, em seu cerne, insustentáveis.
Dessa forma, ao invés de conceber a Educação Ambiental apenas como um instrumento dentro da lógica de continuidade dos modelos hegemônicos de desenvolvimento, que ela possa ser considerada como um campo fértil e impulsionador de processos de religação e de formação de sociedades sustentáveis.

Referências Bibliográficas

Lacerda, Ana Braga de. 2010. Educação Ambiental ente o humano o não humano e o desumano. In: Educação ambiental e os movimentos de um campo de pesquisa. São Paulo: Annablume. p. 31-49.

__. 2007. Educação Ambiental e o pensamento complexo. In: Congresso Internacional de Educación Ambiental dos Países Lusófonos e Galicia, 1., Santiago de Compostela, Espanha, Anais, Santiago de Compostela: CEIDA, 1 CD.

Leroy, Jean-Pierre. 2002. Tudo ao mesmo tempo agora: desenvolvimento, sustentabilidade, democracia: o que isso tem a ver com você?. Petrópolis, RJ, Vozes.

Morin, Edgar. 2003. Educar na era planetária. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO

__. 2005a. O método II: a vida da vida. 3 ed. Porto Alegre: Sulina.

__. 2005b. O método 6: ética. Porto Alegre: Sulina.

Ana Lacerda – Educadora Ambiental